Por Fabio San Juan
Quando se estuda História, ou ao menos nos encantamos com “histórias da História”, corremos o risco de cair na nostalgia. Os nossos professores de cursinho ou do Ensino Médio repetiam, ad nauseam, que “quem não estuda História corre o risco de repetí-la”. Nós, alunos insensíveis de uma época individualista, ignoramos os professores que “queriam abrir nossas cabeças”; ao menos na internet, em redes sociais e grupos de Whatsapp, recorremos ao passado para nele se refugiar, procurando consolo, “cantamos e andamos” para consequências mais amplas do nosso prazer em sonhar com o tempo dos cachorros amarrados com linguiça.
Por isso usei a palavra “risco”, há perigos reais e imediatos em frequentarmos o Túnel do Tempo. Grandes tentações nos esperam bem na porta, e nelas caímos. Pois, em busca de consolo, fazemos concessões à burrice e à preguiça, tudo em busca de um lugar melhor para viver, mental e espiritualmente.
Idealizar o passado, ou seja, transformá-lo numa época que seja ideal, perfeita, sem defeitos, é uma operação psicológica não só necessária para o nostálgico: é uma obrigação, um dever de estado. Na cabeça do nostálgico, suspirar por cidades de 1825 em que não havia poluição nem engarrafamentos de automóveis é uma maneira de denunciar os males da modernidade. Mesmo que viver na era dos carruagens e cavalos implique, ao menos na linha cronológica deste lado do Multiverso, no risco de morrer por causa de um prego enferrujado e da ausência de uma farmácia que tenha penicilina nas prateleiras.