#OPropósitoÉAMorte
Em Tomás de Aquino, a Ressurreição é o exemplo concreto do propósito da existência humana: transcender a finitude e participar da eternidade divina
Mesmo para quem não tem fé, Tomás de Aquino é sempre um alento. À primeira vista, suas questões podem nos parecer distantes, em tempo ou conteúdo, mas elas seguem tocando os dilemas mais profundos da condição humana.
Na primeira parte da Suma Teológica, Tomás explica a necessidade da doutrina da Revelação e a existência de Deus. Para ele, é preciso que os homens aprendam tanto com as disciplinas filosóficas, quanto com a Revelação para realizar sua existência. Ambos os conhecimentos iluminam o intelecto de formas diferentes.
Em Tomás, a fé não prescinde da razão, nem teria existência sem ela. E, para tratar da fé, ele retoma Agostinho: a fé não é cega, não é um salto no escuro, pelo contrário, é ciência alimentada pela atividade da inteligência.
Com sua razão limitada, o homem precisa da palavra, do pensamento e da imagem que, ao iluminar sua alma, ilumina sua ação. Por isso, Jesus Cristo é chamado de Verbo. É ele que comunica a Revelação que redime e salva o ser humano do sofrimento de não saber de onde veio e para onde vai depois da morte.
O Verbo, portanto, é aquele que, para se fazer entender, instruiu os homens para a fé se tornando semelhante a eles. Não por meio de abstrações, mas pela ação. Tomás de Aquino é aristotélico, para ele não existe virtude teórica, bem como não existe salvação unicamente na contemplação, pois é na prática das ações virtuosas que a alma se molda para participar da eternidade.
Tomás de Aquino também retoma Boécio, para explicar que a proposição "Deus existe" é evidente em si mesma. O sujeito "Deus" e o predicado "existe" são absolutamente idênticos, pois Deus é por essência. No entanto, essa evidência não se apresenta de forma clara para o entendimento humano, pois somos incapazes de compreender plenamente a essência divina.
Enquanto algumas proposições podem ser compreendidas pela razão – como a afirmação de que as coisas imateriais não ocupam espaço ou de que o homem é um animal –, a realidade de Deus transcende as capacidades da razão limitada. Por isso, torna-se necessário o Verbo – a Palavra – para que possamos acessar e compreender essas verdades divinas por meio de algo mais familiar à nossa inteligência.
A busca pela filiação divina é, em essência, uma participação na eternidade através do Verbo. A linguagem nos abre as portas para compreender a Revelação, enquanto a ação, o movimento do corpo e da alma, cria o caminho que nos conecta à salvação. Diferentemente de Deus que, em sua perfeição, não necessita de movimento para ser, o homem depende do pensamento e da palavra para encontrar sentido na existência.
Para Tomás, é por meio da Revelação que o homem pode conhecer aquilo que, por sua razão limitada, jamais compreenderia sozinho. É por meio dela que podem atribuir um sentido, principalmente, à finitude de sua vida e à limitação de sua razão – a razão pode compreender muitas coisas, mas jamais alcança tudo o que necessita e deseja saber. A Ressurreição, por sua vez, é o acontecimento que confirma e concretiza esse aprendizado. É o que garante que o homem também poderá ressuscitar, se acolher a graça divina em sua vida.
Tomás argumenta que o homem não foi criado apenas para viver temporariamente, mas para encontrar sua plenitude na participação da eternidade divina. A humildade necessária para assimilar essa natureza não apenas fundamenta a esperança cristã, mas afasta o desespero diante da morte e a vaidade diante da razão.
Se a finitude humana gera dúvidas, seria a Ressurreição que mostraria que o propósito da vida se conclui com a morte, ou quando o homem puder finalmente participar de Deus por inteiro. É uma ordem lógica e metafísica que traz dignidade para a existência. Não se trata de um simples consolo emocional, mas também de uma orientação num horizonte eterno.
Verbo, portanto, significa, primeira e principalmente, o conceito interior da mente. Em segundo lugar, a palavra que exprime o conceito interior. E, em terceiro lugar, a imagem formadora dessa palavra.
Tomás de Aquino
Puts. Arrasaram. Esse escrever coletivo por vezes me confunde e por vezes me inspira. Me inspira a pensar que nossas almas são capazes de construir identidades conceitos e valores imutáveis na sua essência e imortais nos seus propósitos. Minha alma é irrequieta e arredia tipo “se me dizem vem por aqui é por aí que não vou” mas isso me torna solitário e solidário com quem sofre do mesmo desamparo. Essas palavras de vocês me suscitam conforto e dou crédito relevante para elas. E rezo, no verdadeiro sentido de rezar, para que que muitos se confortem e serenem com esses caminhos. Mas eu tendo a seguir solitário e altivo em perseguição da solução final puramente humana nada mais nada menos que puramente humana.
Emocionalmente belíssimo, Lais.
Uma Feliz Páscoa, que a plenitude simbolizada nesta data seja a nossa Confiança eterna em Cristo Jesus!