Em 2021, escrevi um livro para tentar compreender essa nossa época estranha, em que todo mundo parece ter virado um radical extremista.
As respostas das editoras foram unânimes: “o livro é ótimo, mas você não tem seguidores nas redes sociais”.
É a meritocracia do mercado editorial. Um escritor não é mais avaliado pelo que escreve, mas pelo número de seguidores nas redes sociais.
Hoje, muitas editoras são pautadas por algoritmos. E quem decide quem será ou não publicado não é mais a “marca do editor” de que fala Roberto Calasso, mas o chefe do departamento de vendas, que raramente sabe diferenciar um livro de um par de chinelos.
Produzi livros dos outros a minha vida inteira. Não imaginava que teria de produzir o meu.
Ao invés da experiência de autor, que recebe sempre surpreso um email da editora com as revisões, as provas, as sugestões de capa e layout, eu tive de criar uma editora e cuidar de tudo, de capa e layout à negociação de papel e prazo na gráfica.
Como já estou com a mão na massa, fiz uma auto-entrevista para divulgar o livro. Leia logo após a propaganda...
Graças à benevolência dos meus parceiros de NEIM, uso este espaço para fazer um jabá desse extraordinário artefato literário que pode ser adquirido no site da livraria online Bookando, por extraordinários R$ 41,90.
https://www.bookando.com.br/chiuso
Acesse sem medo, é um site de confiança.
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Diogo, na apresentação você diz que, como D. Quixote, “passou as noites em claro e os dias em túrbido” para escrever o livro.
É que quando decidi escrever, fiz uma organização minuciosa do índice, com tópicos e subtópicos, iludido por uma coisa chamada planejamento. Mas comecei a perder o sono quando passei a estudar melhor cada tema e ver que as possibilidades para abordá-los eram infinitas. Depois me deparei com muitos autores que eu não simpatizava, mas com quem fui obrigado a concordar.
Quais?
Marx, por exemplo. Ainda que a sociedade futura imaginada por ele seja só mais um wishfull thinking, é preciso aceitar que a crítica dele à sociedade burguesa é certeira. A humanidade se tornou um mero fenômeno econômico quando passamos a acreditar, como Marx, que tudo é determinado pela relação de trabalho e riqueza. Isso não é verdade, mas hoje se tornou senso comum. E consequência é a falta de sentido para a vida.
Outra realidade que temos de encarar é a ideia de que todas as relações humanas são relações de poder. Isso também não é verdade, mas como já aceitamos a premissa, vivemos como se tudo fosse exatamente como está descrito nos livros de Foucault.
E os autores que você simpatiza?
Homero, Camus, Bernanos, Scciaca... Mas talvez o que mais me surpreendeu foi o Bernard Lonergan. É um autor muito complexo, mas quando a gente começa a entender qual é a dele, ocorre uma epifania. Ele parece ter reflexões sobre todos os problemas da humanidade. E a forma como ele vai aprofundando cada vez mais a reflexão é algo que deixa a gente perplexo. Foi, sem duvida, um dos teóricos mais importantes para o que eu pretendia escrever nesse livro.
E quais as teses defendidas em O que restou da Política?
Não tenho nenhuma tese para defender. Minha pretensão é apenas levantar algumas reflexões que me parecem relevantes no mundo atual. Claro que tenho lá minhas conclusões, mas isso não importa muito porque não tenho a menor pretensão de estar certo o tempo todo. Todos os capítulos têm seus referenciais teóricos que me permitem colocar em discussão algumas questões que tento responder, mas que também ficam abertas para que o leitor possa chegar às suas conclusões e abrir novas perspectivas. A ideia é estimulá-lo a raciocinar junto comigo e ir ainda mais longe. O que espero, sinceramente, é que seja uma discussão em que o leitor sempre saia ganhando.
Mas, afinal, o que restou da Política?
Que pergunta surpreendente, Diogo! Nem parece uma peça publicitária!
Obrigado!
Mas voltando ao livro, o problema é que a política moderna se tornou apenas disputa pelo poder. Nós perdemos o espírito comunitário, já não nos guiamos mais na busca pela justiça ou pelo bem comum. Então, a política, pervertida, consiste apenas na criação de mitos: o mito do sistema político perfeito que irá abolir as misérias humanas; o mito do líder que trará a justiça aos injustiçados, felicidade aos infelizes e punição aos conjurados. E tudo é regido por duas premissas básicas: a hobbesiana, de que o “homem é o lobo do homem”, e, consequentemente, pela proposição de Carl Schmitt de que o que move a política é a relação amigo-inimigo. Essa distinção de amigo-inimigo indica o grau de união ou separação de uma sociedade: quanto mais polarizada, menor é a chance de se pautar as ações pela ideia de justiça ou bem comum. E, obviamente, maior é a chance de serem pautadas por interesses privados.
É assim que surgem as duas facções rivais: os revolucionários desejosos de poder e os oligarcas da burocracia, que jamais querem deixá-lo. O problema é que quando a proposta é sempre combater o discurso do oponente, a política se torna estéril, porque ao invés de se concentrar na busca de soluções práticas para resolver problemas cotidianos, torna-se uma mera expressão de subjetividades abstratas.
Então, não restou nada…
Olha, como dizia o Corção, se a nossa pobre humanidade é capaz de assassinar, ela também é capaz de salvar a vida do outro com risco da própria; se é capaz de roubar, é também capaz de repartir e doar, e se é capaz de inimizades por causa de um pedaço de pão, é capaz também de amor e de amizade em torno de um pedaço de pão.
A verdade é que, para nossa sorte, nem tudo é política.
Seu livro, seus textos e sua atuação é mais que oportuna Chiuso. Assim como a criação a quatro cabeças do NEIM. Como todos nós percebemos há uma fome profunda por confirmação. Isso mesmo. Nem tanto de interpretação ou de análise política - que é sempre bem-vinda - mas de reforço (quem conhece Skinner sabe o que digo). Esse positivo alinhamento que vem de um lampejo do nosso pensar. Quando lemos ou ouvimos uma notícia, uma reação, um desdobramento de um fato, uma afirmação estapafúrdia, coisas vinculadas à continuada corrupção que nos assola, enfim o que nos deixa enojados e indignados, precisamos com muita força para manter nossa sanidade, uma confirmação.
A loucura do nosso tempo é tamanha - em peso, em violência, em desrepeito, em estrago - que vem como um bálsamo uma simples palavra (se um artigo - melhor ainda), ou até mesmo uma ligeira expressão: 'tisque, tisque' - vinda de vocês já é um sopro de ar bom, puro e que nos faz sobreviver. Se um livro então, melhor ainda. É isso - precisava desabafar.
Chiuso, parabéns e obrigada, você é porreta demais! 🙌
Adorei ver você "se" entrevistando e sendo irônico, claro!
Eu conheci você e Martim aqui, no NEIM, nossa Bolha livre e querida! E sinceramente, me tornei fã de vocês e Victor Grinbaum, entre outros aqui. Acho super válido e importante o "auto jabá" de vocês.
O último parágrafo, me encantou ainda mais: "Olha, como dizia o Corção, se a nossa pobre humanidade é capaz de assassinar, ela também é capaz de salvar a vida do outro com risco da própria; se é capaz de roubar, é também capaz de repartir e doar, e se é capaz de inimizades por causa de um pedaço de pão, é capaz também de amor e de amizade em torno de um pedaço de pão.
A verdade é que, para nossa sorte, nem tudo é política."
Novamente parabéns e muito obrigada por divulgar seu talento! 🙌