[Leia a sexta parte do ensaio]
Por Vicente Renner
Grafismo
A Bomba não deve ser interpretada apenas pelos símbolos que apresenta, mas também pela forma que esses símbolos são apresentados graficamente.
A maioria das páginas de A Bomba é desenhada de uma forma objetiva. Rodier, nessas páginas, ainda que alterne ângulos e planos para dar algum dinamismo à narrativa visual, se vê obrigado a acompanhar o caráter expositivo e consequentemente funcional dessas sequências. São páginas de texto, em que personagens conversam sobre a funcionalidade da bomba, o momento histórico, as suas circunstâncias específicas, etc.
Existem, no entanto, os momentos nos quais a hq está nos revelando a verdade da realidade: não os detalhes da construção da bomba, nem as suas consequências sociais, mas o seu significado. Esses momentos se apresentam em páginas, frequentemente duplas, que são imaginativas e elaboradas nas figuras retratadas, mas que se utilizam de um traço inacabado e grosseiro – como se fossem um rascunho. É o que Rodier faz ao reproduzir o Relógio de Hiroshima, e também nas páginas que nos mostra os pesadelos de Klaus Fuchs.
Rodier associa esse traço ao próprio poder nuclear. A sua manifestação como força de destruição niilista é capaz decompor os fundamentos da apresentação da realidade imediata – ou seja, o traço, o elemento constitutivo básico de uma hq. Veja, por exemplo, o quadrinho que nos mostra a explosão da Trinity, a bomba teste de Los Alamos, que inclusive utiliza a mesma técnica de desenho negativo dos pesadelos de Fuchs: