“People see me all the time and they just can’t remember how to act/ Their minds are filled with big ideas, images and distorted facts”.
Bob Dylan, “Idiot Wind”
1.
Bob Dylan estava deitado na cama de um hotel em Amsterdam no ano de 1974 quando veio à sua mente a seguinte frase: “Idiot wind blowin´ through the letters that we wrote” (O vento idiota soprando nas cartas que escrevemos). O que era aquilo? Pela milésima vez em sua vida a maldita metáfora do vento voltava a assombrá-lo. Mas a frase continuava na sua cabeça, a martelar. A única solução era escrever sobre aquele vento – de novo.
“O que eu queria quando fiz aquele álbum”, diria Dylan ao jornalista Bill Graham anos mais tarde, “era desafiar o conceito de tempo. Isto é, o narrador passa o álbum inteiro lembrando do passado durante o presente e, quando se chega na canção final, o presente e o futuro são uma coisa só. Na verdade, todas as letras são como um quadro: você pode ver um pequeno detalhe do quadro ao mesmo tempo que vê a sua totalidade. Era isso o que eu queria fazer: uma meditação sobre a simultaneidade do tempo, de como você pode pensar em uma pessoa querida que perdeu, e ela está lá, ao seu lado, e também não está”.
No seu quarto em Amsterdam, Dylan passou uma semana inteira sem falar com ninguém. Aliás, era exatamente isso o que queria. Depois das discussões com sua esposa, Sara Lownds, um pouco de solidão não faria mal a ninguém. Mas ele também sabia que ela iria embora de sua vida – para sempre. Armado com um violão, uma caneta e um maço de papéis, escreveu e reescreveu incessantemente cada um dos versos que irritavam sua mente. Eles seriam o resultado de um sobrevivente, o sangue que escoa nos trilhos da vida e que deixa as marcas mais profundas.