“Eu prego nestas tirinhas, e me reservo os mesmos direitos de dizer o que quero dizer assim como um pastor no púlpito.”
Charles M. Schulz
Charles M. Schultz é um dos nomes que mais influenciaram o mundo da Nona Arte no século XX, e sua obra extrapolou todas as fronteiras artísticas. Vemos sua influência permanente em obras e mídias tão diversas quanto as animações da Pixar, em personagens tão atuais como Bojack Horseman, e até mesmo a influenciar toda uma geração de jazzistas do calibre de Wynton Marsalis.
Mais de 20 anos após sua morte, o legado artístico e cultural de Schulz ainda se faz presente e a cada dia mais necessário. Talvez nenhum outro cartunista tenha conseguido ao longo de sua carreira e através de seus desenhos, abarcar nossa ‘’condição humana” de forma tão precisa, tão real; seus personagens de traços simples, que retratam apenas o necessário, carregam em suas palavras e gestos não apenas meras tiradas cômicas (e elas transbordam nas tirinhas), mas profundas reflexões filosóficas, existenciais e espirituais que apenas os maiores pensadores conseguiram abarcar e articular, ainda mais em termos tão concisos, precisos.
Seu trabalho incessante, diário, em especial na construção da odisseia de Minduim e sua turma, começou com a primeira tirinha publicada em 1950, no dia 02 de Outubro e a última, no dia 13 de Fevereiro de 2000 - um dia após a morte de seu criador. Foram 17.897 tirinhas, desenhadas, roteirizadas e com letramento do próprio Schultz.
Charlie Brown, Snoopy, Lucy, Linus, Sally, Patty Pimentinha e tantos outros, expressam seus sentimentos, emoções, dramas, paixões, tragédias e curiosidades, desesperança, medo e uma “fé absurda” de forma tão pujante e real que mesmo nas suas mais antigas tiras, e meio século depois de publicadas, elas ainda permanecem comoventes e como “boas novas” tocam nosso coração. O traço humano, demasiado humano, de suas tirinhas era as mais pura vanguarda artística e seu trabalho estava anos luz do que artistas da Nona Arte produziam até então, basta lembrar que um estúdio como a Marvel Comics só buscaria o nível de expressão moral e realismo existencial que Schulz apresentava apenas na década de 60, – e ainda hoje podemos perceber que os personagens de Schulz são mais ‘adultos’, carregam maior peso moral em suas ações e palavras do que muito do que é produzido nas grandes casas de ideias. Nenhuma tema parece escapar ao olhar de seus personagens: arte, amor, velhice, solidão, amizade, depressão, Deus, Bob Dylan…