O escritor francês Leon Bloy dizia que “há espaços no coração do homem que ainda não possuem existência, e o sofrimento neles atua para que possam existir”. Sem dúvida, os pintores Makoto Fujimura e Claudio Pastro concordariam com esta afirmação.
Fuijmura é um artista sino-americano que se inspirou no romance Silêncio, do escritor japonês Shusaku Endo, para refletir sobre o papel do artista em um mundo destruído por traumas que estão além da nossa compreensão. Segundo ele, nos últimos 70 anos, o Oriente nipônico e o Ocidente dos EUA foram vítimas dos seus respectivos Marcos Zero (“Ground Zero”) — as bombas atômicas de Nagazaki e Hiroshima, além do atentado terrorista do 11 de setembro que destruiu as duas torres do World Trade Center.
A partir da escrita de Endo, Fujimura recupera outro Marco Zero da cultura japonesa, situado no século XVII, quando o Japão ainda era um regime feudal — no caso, a perseguição sistemática aos cristãos, seja japoneses ou missionários jesuítas e franciscanos, obrigados não apenas a suportar torturas excruciantes (como “o suplício do poço”), mas também a cometerem apostasia, pisando em cima de um ícone com o rosto de Jesus Cristo ou da Virgem Maria — o fumi-e –, e assim continuarem vivos.
Esses eventos ajudaram a criar no Japão o que Fujimura chama de “cultura fumi-e”. Trata-se da supressão de qualquer espécie de iniciativa individual, deixando o sujeito em um ostracismo social, no mínimo, ou desesperado pela própria sobrevivência física, em um país que não consegue superar as diferenças metafísicas entre uma visão de mundo fundamentada na adoração de uma natureza imanentista e uma religião aberta ao transcendente por meio do sacrifício de ninguém menos que o Filho de Deus.
(Qualquer semelhança com o Brasil não é uma mera coincidência)