#OUberAntrópologo
Silêncio: o pesquisador brasileiro descobriu que ter dinheiro ainda é uma vantagem no Brasil.
Estudantes universitários são preconceituosos por vocação. De pós-graduação, então, nem se fala.
O leitor ranzinza do NEIM duvida da afirmação acima?
Não precisa acreditar no estagiário, não. Basta ler os primeiros capítulos de A Distinção, de Pierre Bourdieu, ou O Acontecimento, livrinho da escritora e Nobel de literatura Annie Ernaux. Nessas duas obras estão a força invisível do preconceito de classe que se estabelece não somente pelo dinheiro, mas, essencialmente, pela noção de que se pertence a um grupo superior, cuja estima se delineia sobretudo em relação ao outro que está no grupo inferior (ou seja: aquele que não tem diploma).
O estagiário do NEIM sabe que o parágrafo acima é afetado; mas não é preciso ser leitor de clássicos da sociologia ou de livros da moda para entender do que se trata a noção de preconceito de classe. Basta o leitor acessar ao UOL, o portal que, nesta terça-feira, publica a entrevista que o jornalista Carlos Juliano Barros com o autor e antropólogo Ilan Fonseca de Souza.
O antropólogo em questão acaba de publicar o livro Dirigindo Uber, um spin off da sua tese de doutorado apresentada na Universidade Federal do Sul da Bahia. E do que trata a tese do doutor? Claro, da “uberização do trabalho”:
Depois de passar 352 horas ao volante e transportar 350 passageiros, ao longo de quatro meses pelas ruas de Salvador, Ilan Fonseca de Souza reuniu material suficiente para concluir sua tese de doutorado sobre a chamada "uberização", apresentada à Universidade Federal do Sul da Bahia (UFSB).
Carlos Juliano Barros, o repórter, não se faz de rogado. Afinal, o próprio jornalista, como se lê em sua minibiografia, é autor de trabalhos a respeito da Gig Economy. É hora de ativar o tradutor de lero-lero do NEIM: ele é um expert no “trabalho de malaco”.
No texto para o UOL, ele deixa evidente o ensejo entre o lançamento do seu livro e o que está em curso na suprema corte do país. Acompanhem:
Transformado no livro "Dirigindo Uber", recém-publicado pela editora Juruá, o estudo pula os muros do meio acadêmico em uma época decisiva. Enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) discute a existência de vínculo empregatício entre trabalhadores e plataformas, o governo federal tenta aprovar no Congresso Nacional um projeto de lei para regulamentar a atividade de motoristas.
O fato da tese ter pulado muro já não é bom sinal, não é mesmo? Não contente com isso, Carlos Juliano Barros decide fazer uma entrevista com o antropólogo. Os trechos só mostram como certa linhagem de pesquisadores no Brasil não está comprometida com o objeto de sua investigação; antes, querem converter suas teses em verdade.