“Aceito o risco de parecer repetitivo”. Assim começa um artigo de Roberto Campos, escrito em janeiro de 2000.
“Diante das grandes questões que preocupam mais no nosso país, a originalidade do articulista fica em segundo lugar. Estamos atravessando dias pesados, um ambiente de insatisfações e sombras. Os mais jovens sentem-se angustiados diante das incertezas do futuro, da ameaça de desemprego, de falta de horizontes. Os mais velhos tentam lembrar-se daqueles períodos em que o Brasil não atravessava um estado de crise permanente. Salvo alguns breves anos do começo do Plano Real, parte da era Kubitschek e o otimismo do “milagre econômico” do fim dos anos 60 – que, no entanto, foi tisnado pela situação política de exceção – todo o resto de nossa História contemporânea é um confuso mosaico de problemas e condições institucionais instáveis.”
Sim, não há o que tirar do texto de Campos (leia o texto completo neste link). Talvez pudéssemos acrescentar em sua lista a Lava Jato, outro momento luminoso que não precisa ser idealizado, mas reconhecido.
Campos estava consciente de que não havia novidade nenhuma em seu diagnóstico, justamente por isso era importante repeti-lo. Só assim é possível manter a necessária atenção ao pano de fundo, à estrutura apodrecida que sabota cada conquista importante do país.
“A verdade é que nosso grave subdesenvolvimento não é só econômico ou tecnológico. É político. Somos um gigante preso por caguinchas dentro de estruturas disfuncionais. A máquina político-administrativa que rege hoje nossos destinos é uma fábrica de absurdas distorções cumulativas. O regime presidencialista e o voto puramente proporcional, cada um dos quais, já de si, dificilmente funcionam bem, transformam-se, quando combinados, numa crise quase ininterrupta.”
Já que temos tantos partidos, deveríamos ter um Partido do Óbvio Ululante, no qual estariam reunidos todos aqueles dispostos a falar o que precisa ser dito. Em meio a tanta bobagem repetida não por ser óbvia, mas por ser conveniente, o nosso POU insistiria no evidente, não por falta de imaginação, mas por excesso de compromisso com a realidade.
O que o texto de Campos ainda repete é que não há heroísmo, nem culpado único. É um mito, também, imaginar que o povo brasileiro é ruim. Há muita gente competente no país. Mas somos como um ônibus sem freio. Quem entende o problema não é necessariamente capaz de consertá-lo. Quando é, a corrente da sabotagem é poderosa. Há uma engrenagem de irresponsabilidade institucional alimentada há tempos e que aguarda uma reforma estrutural profunda que não sabemos se um dia se realizará. Enquanto isso não ocorre, não só podemos como devemos repetir o óbvio para que ele jamais caia no esquecimento.
“O mundo está cansado de esperar pelas "reformas" brasileiras. E de ouvir lamentações sobre a nossa pobreza. Há muito, exceto em regiões desérticas da África ou gravemente sobrepovoadas da Ásia, a pobreza deixou de ser uma fatalidade. É um acidente histórico de povos que preferem externalizar a culpa ao invés de fabricar seu próprio destino.”
Só não concordo que a maioria do nosso povo é do bem. Basta sentar em qualquer esquina de nossas cidades e ficar observando o cotidiano que essa tese desaba
Com um presidente igual a este fóssil canhoto colocado pela terceira vez (diretamente, e mais outras duas indiretamente) como primeiro mandatário da nação, é espantoso que o Brasil ainda não tenha acabado, afogado num mar de incompetência e narrativas.