[Leia a primeira parte do ensaio]
Éric Vuillard não tenta esmiuçar todas as causas e consequências da Segunda Guerra Mundial. Ele se debruça sobre dois episódios bem conhecidos, recorta a cena de clímax de cada um e aí detém-se, minuto a minuto, quadro a quadro, em cada gesto, cada palavra dos personagens, que somados levam ao efeito final, muitas vezes só compreendido anos mais tarde. A reunião com os industriais e banqueiros para financiar o partido nazista, em 1933, é o primeiro episódio.
Funciona como um romance porque ele usa técnicas tradicionais de romances históricos, narra fatos verificados com drama e suspense. Combina eventos reais muito bem pesquisados com detalhes precisos, inventados. Faz observações como se estivesse na cena, dirigindo-se ao leitor, que assim se vê na cena, também. Com sua experiência de montagem em cinema, condensa tempo e espaço com segmentos de informações bem cortados.
A segunda parte do livro começa em fevereiro de 1938. Hitler atrai Kurt von Schuschnigg, chanceler da Áustria, ao seu chalé (mais para castelo) nos Alpes, e o obriga de forma nada elegante (alguns usam o termo "tortura psicológica" para descrever a forma) a renunciar secretamente a seu cargo. Hitler deu a Schuschnigg um ultimatum: você tem oito dias para reconduzir ao poder o Partido Nazista da Áustria, nomear ministros nazistas e anistiar os prisioneiros nazistas. A alternativa? A morte. Schuschnigg cedeu. Com isso, estava aberta a fronteira para os nazistas anexarem a Áustria. A invasão foi marcada para dia 12 de março de 1938.