Eu cresci assistindo esse cara. E fico feliz que ele seja umas das minhas referências na comédia.
Abaixo a coluna da Ilustrada do sempre excelente Cláudio “Casseta & Planeta” Manoel:
PIADA É COISA SÉRIA
Na coluna passada tratei, ligeiramente, das mudanças das percepções e permissões sobre o humor. Por que, de uns tempos para cá, a piada tem sido tratada com tanta seriedade, em detrimento de outros temas que seriam mais urgentes, graves ousérios de verdade?
A intenção era mudar o rumo da prosa, mas não é que não dá, é que não deu. A tal da vida real não deixa. Recentes imbróglios com humoristas viraram assunto e mesmo a briga não sendo minha, não posso ficar de fora.
O primeiro sururu envolveu o Oscar Filho queousou cometer uma piada - não se sabe ainda se dolosa ou culposa - sobre a saúde do atual presidente e apanhou bonito.
Teve site de revista que estampou: “Humorista debocha do estado de saúde de Lula e é repreendido” (em nome de Jesus, ou a repreensão foi apócrifa?). Teve também quem repercutiu com:“Humorista zomba do estado de saúde de Lula após internação”. Essas e outras mais: Google.
E eu que sempre pensei que debochar e zombar fossem requisitos inerentes à profissão. Deboche e humor são – ou eram – inseparáveis e, assim como nos casamentos, deveriam ficar juntinhos na saúde e até mesmo na doença.
Noticiar que um humorista debocha ou zomba, em qualquer outra época, seria tão estranho como alardear que “piloto pilota”, “cirurgião faz cirurgia, “faxineiro faxina”, uma absoluta não-notícia. Algo mais irrelevante até que o clássico: “Caetano estaciona no Leblon”, pois até onde se sabe, entre os inúmeros talentos do mestre baiano, não inclui o de ser manobrista.
O mesmo Oscar Filho - sossega, menino - junto com Diogo Portugal e Danilo Gentili - também apareceu em outro rolo. Uma decisão judicial proibiu a comercialização do vinho “Putos”, um bem-sucedido projeto eno-humorístico do trio (embora nas mídias, estranhamente, só o nome do Danilo foi alvo e alvejado), que significa “garotos”, em Portugal, de onde vem o vinho. Mas segundo a meritíssima que julgou a ação, o rótulo-sátira“desabona e imita” a marca europeia - o fodásticovinho francês “Petrus” - associando-a a uma “expressão considerada obscena”.
Como um vinho lançado por 3 humoristas pode prejudicar outro que custa cerca de mil vezes mais e é caro até para o Boni? É que para o humor é cobrado limites. Pro mau humor, não.
O humor que debocha e satiriza não pode. Vamos todos render homenagens ao humor “do bem”, aquele limpinho, “sadio”, anódino e que não provoca nada senão um esgar, um espasmo de nojinho…. Cláudio Manoel, evidentemente será contestado pela patrulha janjo-lulo-festiva. Eu quero é mais humor sujo, debochado, escrachado e incontrolável.
O fantástico humorista Cláudio Manoel, que eternizou personagens como o Massaranduba e o Seu Creysson, simplesmente definiu os tempos atuais, não sei se com originalidade ou copialidade, mas de forma definitiva: “Para o humor é cobrado limites. Pro mau humor, não.”