#PolíciaDaLinguagem
Advocacia Geral da União lança manual para combater linguagem estereotipada, mas não parece muito empenhada em combater a corrupção galopante que assola o país
A Advocacia‑Geral da União (AGU) publicou, no dia 21 de novembro de 2025, uma Portaria Normativa n. 88, que chama atenção: a ideia é que, nos documentos oficiais da Procuradoria‑Geral Federal (PGF) e demais comunicações institucionais, não será mais permitido usar algumas expressões que “reproduzem preconceitos históricos”.
Entre os termos listados, figuram expressões como “a coisa está preta”, “meia-tigela”, “índio”, “mercado negro” e outras 12 que a AGU quer ver expurgadas.
A portaria define que linguagem que “perpetua estereótipos ou associações negativas relativas à raça, cor, origem ou etnia” está fora do escopo aceitável para o órgão.
Para garantir que esses termos deixem de circular nos meios oficiais, a portaria também prevê ações de “letramento racial” — ou seja, quem usar uma das expressões “não aceitáveis” poderá receber orientação individual, cursos e materiais educativos. A burocracia vai reeducar os burocratas para que a linguagem oficial fique alinhada com uma visão identitária de mundo.
No fim, o caso pode ser visto como um gesto simbólico da AGU para mostrar que está antenada nas discussões acadêmicas inócuas, enquanto assiste de boa os maiores corruptos do país serem salvos por decisões absurdas no STF.
É sempre mais fácil mostrar trabalho com cartilhas e programas de reeducação de funcionários do que enfrentar o sistema político corrupto que aderiu como um crustáceo nas estruturas burocráticas do nosso país.
A quem tiver curiosidade, seguem as 17 expressões proibidas pela AGU, com as respectivas justificativas e sugestões de uso retiradas diretamente da cartilha do órgão.
“a coisa está preta” (“evitar metáforas que associem “preto” à negatividade”);
“baianada” (“termo pejorativo relacionado à “baiano”; evite.”);
“boçal” e “boçalidade” (“termos pejorativos, evite”);
“cor de pele, quando usado para tons de bege (“recomenda-se especificar o tom em vez de ‘pele’ como metáfora”);
“denegrir” (“termo que remete a ‘tornar negro’; evitar”);
“dia de branco” (“expressão que associa “branco” a privilégio ou exclusão; evitar”);
“escravo, em sentido genérico” (“substituto sugerido: ‘pessoa escravizada’);
“humor negro” (“substituir por “humor ácido”, “humor macabro”, ou outra expressão que transmita o sentido sem associação à cor”);
“índio” (substituir por ‘indígena’ ou, ainda melhor, o nome da etnia ou nação indígena em questão);
“lista negra” (sugeridas: “lista proibida”, “lista restrita”, “lista suja” ou similar que não associe “negro” ao negativo);
“magia negra” (expressão com conotação negativa ligada à “negro”; evitar);
“meia-tigela”, no sentido metafórico de algo sem valor ou medíocre (expressão informal que reforça estereótipo; evitar);
“mercado negro” (substituto sugerido: “mercado ilícito”, “mercado sujo” ou outra expressão precisa sem associação à cor);
“mulato” / “mulata” (emprego considerado inadequado; evitar);
“não sou tuas negas” (expressão ofensiva e racista; evitar);
“ovelha negra” (metáfora que associa “negro” à parte indesejada ou excluída; evitar);
“samba do crioulo doido” (expressão pejorativa, estereotipada; evitar).





Eu confesso que, ao ler a lista, eu ri, mas juro que foi um riso nervoso. No país onde muitos conseguem diploma de curso superior mal sabendo ler, nossa iluminada e endinheirada classe judiciária está preocupada com bobagem identitária inventada por imbecis.
O que será que seria proibido pela AGU na frase "o banqueiro com inúmeras conexões políticas roubou uma grana preta"?