#Pornografia&Glaucoma
Meu irmão me apelidou de Delfim Netto. O apelido não pegou, felizmente.
Por André De Leones
Em ABRIL:
Mais informações sobre o livro em breve. Design da capa: Caio Maia. Tela: “Proibido nº 2” (1979), de Siron Franco.
Ballard.
Ao comentar “Princess Margaret’s Face Lift”, uma das seções do imprescindível “The Atrocity Exhibition” (1970), J. G. Ballard fala sobre o impulso reducionista do texto científico, que estaria em “rota de colisão com a pornografia mais obsessiva”:
O que parece tão estranho é que esses relatos neutros de procedimentos cirúrgicos tirados de um manual de cirurgia plástica podem ser radicalmente transformados com a mera substituição do anônimo ‘paciente’ pelo nome de uma figura pública, como se a literatura e a condução da ciência constituíssem uma pornografia vasta e adormecida, esperando para ser desperta pela mágica da fama.
E assim observamos o procedimento literário pelo qual a “pornografia vasta e adormecida” é desperta mediante a mera substituição, no caso, de “paciente” por “Princesa Margaret”:
Nesse ponto a orelha foi movida para a frente, na direção do queixo, e o corte foi fechado com suturas descontínuas. Não importava o quão firmes eram os pontos atrás das orelhas, pois aquela parte da cicatriz da Princesa era invisível em condições normais.
Ballard concebeu várias desses experimentos narrativos. Nas edições norte-americanas de “The Atrocity Exhibition”, além de “Princess Margaret’s face lift”, encontramos “Mae West's Reduction Mammoplasty” e “Queen Elizabeth's Rhinoplasty”. Também é possível ler “Jane Fonda’s Augmentation Mammoplasty” on line. Por ser britânica, a minha edição de “Atrocity” (Fourth Estate, 2014) traz apenas os “procedimentos” envolvendo a princesa Margaret e Mae West — nada de rinoplastia na rainha, galera.