O que estou fazendo aqui?
No momento em que encerro minha carreira na imprensa, leio em O Globo uma nota que resume idealmente meu fracasso - o epitáfio perfeito:
“Vale contrata novo diretor de olho na meta de melhorar relação com governo Lula.
Kennedy Alencar, que estava na Rede TV e no UOL, vai cuidar das relações institucionais da mineradora”.
A nota continua:
“Veterano na cobertura de política em Brasília e em São Paulo, ele tem uma relação de proximidade com Lula e boa interlocução com o PT. Também tem bom trânsito com ministros do STF e lideranças do Centrão”.
Kennedy Alencar sempre foi uma figurinha menor, mas isso não me impediu de usá-lo como exemplo da promiscuidade entre o lulismo e a imprensa. Vinte anos atrás, de fato, citei-o numa coluna da Veja em que dava o nome de diversos membros do agitprop governista que se vendiam como jornalistas:
“Os lulistas reclamam da imprensa. Não entendo o motivo. Lula já teria sido deposto se jornais, revistas e redes de televisão não estivessem tomados por seus partidários. Eu acompanho todo o noticiário político. Minha maior diversão é tentar adivinhar a que corrente do lulismo pertence cada jornalista (…).
Kennedy Alencar foi assessor de imprensa do PT Ele continua sendo assessor de imprensa do PT, só que agora de maneira não declarada, em suas matérias para a Folha de S. Paulo”.
Na década seguinte, quando Mario Sabino e eu fundamos O Antagonista, fizemos uma série de reportagens sobre a gráfica do irmão de Kennedy Alencar, Beckembauer Rivelino, que em 2014 emitiu uma fortuna em notas fiscais misteriosas para a campanha de Dilma Rousseff. Não deu em nada.
Agora Kennedy Alencar está no lugar certo: numa empresa paraestatal, que vai lhe pagar muito mais do que qualquer jornal para fazer publicamente o que sempre fez de maneira semiclandestina.
A imprensa morreu - e eu morri com ela. Os sobreviventes são tipos iguais a Kennedy Alencar, que pulam de um galho em galho e traficam sua “proximidade” e “bom trânsito” com o poder para faturar alto.
Adeus.
O problema não é o Kennedy Alencar...ele é o que sempre foi, um militante travestido de jornalista. O problema é uma empresa com o tamanho da Vale se submeter a um "joguinho de varejo" primário destes. A crise brasileira é mais das elites do que do povo. Aliás, o povo (este coadjuvante manipulado em tudo), tem até, vez que outra, berrado nas urnas....mas, a "elite", esta jamais falha em seu oportunismo e vontade de se aproveitar de qualquer situação casuística. Como diria o Roberto Campos, "o Brasil jamais perde a oportunidade de perder uma oportunidade".
A esquerda venceu. A imprensa esquerdista venceu junto. É melhor o povo também se aposentar e/ou ir embora do bananal. Senão, vai acabar sofrendo impeachment. Só temos que te agradecer, Diogo.