O que define uma pessoa? O que nos define? Seria talvez o nosso trabalho? Ou a nossa família? Os filhos que criamos, por exemplo, ou talvez as amizades que fazemos e mantemos com outras pessoas? E, caso ficássemos sozinhos em uma ilha deserta, distante de toda a civilização e contato com outros humanos, tal qual Robinson Crusoé, quem nós seríamos? Talvez possamos formular essa pergunta de outro jeito: Por que fazemos o que fazemos?
Esse tipo de questionamento afligia gente do calibre de Robert Bresson e Orson Welles, que parece ter construído toda a sua obra cinematográfica em torno dessa questão. Ao assistir Cidadão Kane, o escritor argentino Jorge Luís Borges famosamente definiu o filme de Welles como sendo um “labirinto sem centro”. Afinal, podemos reduzir Charles Foster Kane ao seu trenó, Rosebud? O mistério no centro de Kane não é o que significa Rosebud, claro (e o próprio Welles, assim como o roteirista Herman J. Mankiewicz, viam “Rosebud” como um recurso narrativo barato, um truque), mas sim quem é (ou foi) Charlie Kane.