Cármen Lúcia declarou que a censura é proibida sob todos os aspectos: constitucional, ético, moral, até mesmo espiritual. Muito bonito o discurso que durou tão pouco. Afinal, imediatamente, ela advertiu que não se pode admitir uma ágora com 213 milhões de pequenos tiranos soberanos. Isto é, ao mesmo tempo em que reafirma o princípio da liberdade, a ministra assegura que a liberdade, quando exercida por todos, ameaça a ordem pública e exige regulação. Soberano é a lei. Ela é guardiã da lei. Portanto...
O raciocínio subjacente revela uma filiação clara ao diagnóstico obscuro de Hobbes. A multidão representa uma soma de vontades imprevisíveis, potencialmente perigosas. O espaço público, portanto, não é lugar de convivência entre cidadãos adultos, mas campo de batalha entre sujeitos sujos e mesquinhos, cujo potencial destrutivo precisa ser contido por agentes da lei, todos iluminados pela razão, pela bondade. Nossos reis-filósofos. Por eles, a palavra livre é vista como risco permanente; o Estado, investido de autoridade semidivina, passa a ser o agente legítimo da vigilância e da punição. Pois é o agente da bondade, da liberdade e da justiça.