#religiaonaoeopio
Isto é imprensa: para ela, o brasileiro só é best-seller se ler Zibia Gasparetto e Chico Xavier.
Juliano Spyer foi promovido pela imprensa para ser, como diz o próprio nome, um espião deste outro lado misterioso chamado “os evangélicos”.
Em suas colunas na Folha, ele explica aos leitores progressistas o que seria essa revolução silenciosa que “explodiu” (segundo suas pesquisas) com a eleição de Bolsonaro.
No texto de hoje, Spyer quer ajudar o leitor esclarecido o porquê da Flip — Festa Literária de Paraty — ter sido um flop, um retumbante fracasso.
Obviamente, a culpa é da religião, vista de maneira subliminar como um ópio que entorpece as massas e que agora separa a nossa elite esclarecida do nosso público-leitor o qual, se não consome esses “luminares” que são Conceição Evaristo e Itamar Vieira Filho, deixa-se entupir de excrescências como Chico Xavier, Zíbia Gasparetto e Padre Marcelo.
Com essa falsa dicotomia, Spyer mostra que é um ignorante tanto em literatura como em religião.
Em primeiro lugar, porque o que a Flip promove não é literatura de verdade. É niilismo de boutique, feito para aplacar o fastio dos burgueses que vivem nestes tristes trópicos.
Em segundo, porque Gasparetto, Chico Xavier e Padre Marcelo não têm nada a ver com religião.
Religião, para mim (e o resto da civilização ocidental), é Simone Weil. S. Bernardo de Clairvaux. S. João da Cruz.
Portanto, Juliano Spyer deveria voltar a ser o positivista de gabinete que é (um pleonasmo, eu sei) e parar de dar opinião sobre assuntos que não entende.
Quem sabe dessa maneira os nossos progressistas consigam sair do flop eterno que se tornou a nossa cultura, com a proliferação de inúmeras Flips que discutem tudo, menos literatura.
Conheci esse senhor quando ele foi citado por um grupo político de direita - eles estavam lendo um livro dele sobre os evangélicos: ao que parece, pressupondo que ele poderia falar com propriedade sobre esse grupo religioso. Me assaltou o ceticismo e a suspeita, uma vez que, atualmente, todo progressista e secular (quase um pleonasmo, se não o é) - mesmo os tais "cristãos progressistas" um patente oxímoro - quando abordam a religião, a abordam de maneira reificada. Ou seja: amputam a dimensão metafísica - que é a mais axial - e a reinterpretam como algo psicológico, sociológico e histórico (ainda que a religião possua essas dimensões, cada uma delas não apreende aquilo que é mais profundo e importante). Por exemplo, Cheviatareses da vida abordam a Ressureição de Cristo - que se não for colocado no centro do cristianismo, este perde o que de fato é. Assim sendo - de maneira secundária. Eles pressupõem uma epistemologia cientificista e materialista e a consideram como única "científica" - quando, na realidade, é uma questão filosófica, pois, afinal, toda epistemologia pressupõe uma estrutura da realidade. Isso sem falar nas questões antropológicas e morais - que são abordadas de maneira ainda mais tacanhas. Logo, é um erro abissal querer entender e se aproximar de algum grupo religioso pelas lentes de um progressista que pressupõe uma metafísica mágica e misticista - pois o naturalismo é isto mesmo - e se acha o arauto da moral e razão - quando na realidade não passa de um dogmatismo misólogo empedernido.