Lançado em 1996, pouco depois do igualmente apocalíptico Independance Day (idem, de Roland Emmerich), e com orçamento semelhante, o longa de John Carpenter - uma continuação do clássico cult Fuga de Nova York (Escape from New York, 1981) - foi um retumbante fracasso quando seu lançamento. Com orçamento de aproximadamente 50 milhões de dólares (para efeito de comparação, Jurassic Park [idem, 1993, de Steven Spielberg] custou 65 milhões), Fuga de L.A. só conseguiu render 25 milhões nas bilheterias, e as críticas massacraram o filme. A única avaliação positiva do filme veio de Roger Ebert (para quem não sabe, Ebert era o mais popular e famoso dos críticos de cinema dos Estados Unidos), que parece ter captado perfeitamente as intenções de Carpenter, além de ter percebido o quão subversivo e único o filme era (e é). De resto, no entanto, o filme sempre teve uma péssima reputação, e dificilmente passa por reavaliações (existem algumas, aqui e ali, mas que são um tanto tímidas e retraídas).
Curiosamente, John Carpenter não renega o filme que fez; pelo contrário, continua sendo um dos seus favoritos. Um notório iconoclasta cujo maior traço de personalidade é justamente a sua aversão a autoritarismos, com um temperamento idiossincrático que parece ativamente buscar conflito com aqueles que o desafiam, Carpenter nunca se deu muito bem com o sistema de estúdio hollywoodiano, e sempre conservou seu estilo único, independente. A partir dos anos 90, no entanto, sua carreira entrou em nítida decadência, com uma sucessão de fracassos comerciais e de crítica, e mesmo os seus fãs e admiradores tem dificuldade em defender essa fase de sua carreira, e Fuga de L.A. é muitas vezes apontado como sendo o ponto mais baixo da longa carreira do diretor. Por ser a única continuação que Carpenter fez, e justamente por ser a continuação de um filme que praticamente inaugura a sua filmografia dos anos 1980 (sem dúvida o seu ponto alto), Fuga de L.A. é massacrado continuamente. Como o leitor deve perceber, eu discordo - e discordo radicalmente. Primeiro, Fuga de L.A. é um grande filme - um dos mais subversivos e ousados de Carpenter; segundo, a sua filmografia dos anos 90 é igualmente subversiva e ousada, ainda mais iconoclasta que a dos anos 80, e uma que só pode ser compreendida se, em primeiro lugar, compreendermos o que de fato é Fuga de L.A. (gostei dessa circularidade).
O fato é que Carpenter se usou do orçamento e do marketing de um típico blockbuster dos anos 1990 em um filme profundamente subversivo, pessoal e único. Apesar do seus 50 milhões de dólares, Fuga de L.A. é um filme que parece projetado exclusivamente para frustrar o espectador - e divertir aqueles de fato estão na mesma sintonia que ele. Além disso, o fato de ser um filme que é, para todos os efeitos, um remake de Fuga de Nova York, convida o tempo todo comparações. Fuga de L.A. é basicamente o mesmo filme - ou, ao menos, superficialmente o é.