#Sátántangó(1)
O romance de estreia do escritor húngaro László Krasnahorkai, publicado em 1985, foi imediatamente reconhecido por sua originalidade
Parte 1
Para a maioria de nós, brasileiros, pensar na Hungria evoca imagens dramáticas de 1956: estudantes, operários e militares nas ruas, alguns em pé sobre um tanque russo, brandindo uma bandeira húngara. Suas boinas e longos sobretudos dão um certo ar de elegância à cena, a despeito da tensão perceptível, todos voltados para um mesmo lado, de onde vem uma ameaça. Sabemos que muitos deles vivem ali seus últimos momentos de vida. Poucos dias depois do momento em que a foto foi feita, 20.000 vidas seriam ceifadas no massacre comandado por Krushchev para esmagar a Revolução Húngara. Na maioria, jovens que protestavam contra o governo de facto de Mátyás Rákosi, inteiramente submisso à Rússia estalinista e o mais violento repressor das minorias políticas, sexuais e religiosas de toda a Cortina de Ferro. Temos a memória das imagens em preto e branco nos jornais, manchetes borradas em letras grossas, de uma época em que ainda se falava a verdade na imprensa.
No entanto, da vasta literatura húngara, lamentavelmente conhecemos bem menos. O nome László Krasnahorkai (LK), por exemplo, quase desconhecido no Brasil, deveria estar na ponta da língua. Não participou da Revolução, já que nasceu em 1954, mas cresceu à sombra do comunismo imposto com grilhões até 1989, quando o muro de Berlim foi finalmente derrubado. LK nasceu em Gyula, uma cidade pequena mais conhecida, mesmo hoje, por um castelo medieval bem conservado e por sua estação de águas termais. A Hungria, tendo sido elemento importante no extinto Império Austro-Húngaro, sempre teve educação pública de qualidade mesmo nas cidades menores. LK graduou-se do Ensino Médio em 1972 já com especialização em Latim. Cursou Direito e depois Língua e Literatura Húngara, onde debruçou-se sobre a obra de outro húngaro essencial, Sándor Márai.



