Capítulo 1: 1978, Ano Zero
“A triste verdade é que a verdadeira vida do homem consiste
“eu tinha um porfólio gigante de desenhos que eu queria
mostrar para o Neal Adams. Quase quebrou o nariz dele
quando ele abriu. Ele olhou para os meus desenhos e
disse ‘de onde você é?’. Eu disse ‘Vermont’.
‘Você deveria voltar para lá e virar frentista.
Você nunca vai ser bom'”.
Frank Miller
O Demolidor de Frank Miller e Klaus Janson é o ápice de uma época.
Ao longo da década de 70, diversos fãs de quadrinhos se tornaram quadrinistas profissionais. Eram quadrinistas com ideias pretensiosas sobre o potencial do meio para tratar de assuntos sérios. A série Green Lantern/Green Arrow, de Dennis O’Neil e Neal Adams, talvez seja o primeiro exemplo. Warlock, de Jim Starlin, publicado entre 1976 e 1977, talvez seja o melhor.
Aqueles quadrinistas, no entanto, ainda produziam hqs que eram destinadas a serem consumidas de forma voraz e fugaz. A temática poderia ser séria, mas a abordagem era a mais direta possível. dificilmente contemplava nuances de forma sutil, sóbria ou profunda.
Assim, O’Neil e Adams escreveram histórias sobre problemas sociais polêmicos, como poluição, excesso populacional e drogas. Mas elas não expressavam qualquer ambiguidade em relação a esses problemas. Também eram protagonizadas por um Arqueiro Verde que usava o mesmo chapéu engraçado de sempre. Frequentemente envolviam monstros alienígenas — para não falar do careta de plantão e titular da cabeceira da série, o Lanterna Verde, que é um policial cósmico.
Não muito diferente, Starlin escreveu uma space-opera sobre Nietzsche, Kierkegaard e Freud. Mas ele fez isso usando ciano, magenta, amarelo, diálogos expositivos e tubarões espaciais.
Eram hqs pensadas para o leitor ocasional. A parceria entre O’Neil e Adams iniciou em Green Lantern #76, quando a série foi rebatizada de Green Lantern/Green Arrow [ainda que mantendo a mesma numeração] e encerrou-se em Green Lantern #89. No período, as aventuras se sucederam como em um gibi dos anos 60: uma por edição, a exceção dos números #85 e 86, sem qualquer efeito sobre a história anterior ou seguinte. A temática social muitas vezes parecia mais um atalho do que um assunto — como vilões de origem animal na série do Homem-Aranha.
O Warlock de Jim Starlin até contemplava uma continuidade em suas histórias [uma marca da Marvel desde o seu início]. Os leitores fiéis, mesmo assim, não estavam no topo da lista de prioridades: a história passou por 4 cabeceiras diferentes, terminando na Marvel Two-In-One Annual #2 [o Coisa enfrenta o Homem-Aranha!] como um favor de Archie Goodwin, o editor da Marvel naquele momento, para Starlin.
Foi em 1978 que isso mudou.
Em primeiro lugar, o mundo externo aos quadrinhos parecia estar pronto para recebê-los no panteão das artes que devem ser levadas a sério.
Em 1978 foram lançados Cão em Fuga, Don Delillo, e O Fator Humano, de Graham Greene. São dois livros de literatura “de verdade” que operavam com base em elementos mais típicos da literatura low brow. Roger Zelazny lançou mais um livro da série Crônicas de Amber, The Court of Caos. Zelazny estava inserido em um espaço considerado low brow [livros de ficção científica como os de Michael Moorcock], mas escrevia personagens que fumavam e vestiam gabardina. Foi dessa forma que ele se tornaria uma das grandes influências de Neil Gaiman, um dos mais articulados roteiristas de quadrinhos.
Também é o ano em que estreou o primeiro filme do Super-Homem. Você pode dizer que ele era um filme comercial. Mas é facilmente perceptível pelos nomes que lhe foram associados [Marlon Brando, sem ir muito longe] que era um filme comercial que tinha seu valor como validação.
Finalmente, 1978 também foi o ano em que faleceu Norman Rockwell. O acontecimento é emblemático. Rockwell talvez seja o artista americano que mais fez por dar credibilidade artística à arte popular.
Em segundo lugar, o mundo dos quadrinhos tinha percebido a existência de uma oportunidade.