#SoberanosInvertebrados
A única soberania com a qual a universidade brasileira deveria se preocupar é a epistemológica
Diz o sapiente molusco: “Ninguém determinou que o dólar é a moeda padrão. Em que fórum foi determinado?”
E olha que o Brasil participou do tal “fórum”…
Negar vacinas ou negar a ordem econômica global? O que preferimos? É uma dúvida muito cruel a qual deliberadamente nos submetemos ao militar em vez de pensar. Uma dessas ignorâncias é menos mortal do que a outra?
Ambas matam, ambas são evitáveis, ambas refletem uma falha cognitiva e ética que acomete as três últimas pessoas que o Brasil escolheu para ocupar a Presidência nos últimos 20 anos. Se eu posso escolher o ruim, por que vou optar pelo pior ainda? O pragmatismo político à moda brasileira é cada vez mais aberrante.
Mas na USP, claro, a opção já foi feita há muito tempo, com orgulho, com louvor.
Como se fosse possível falar em soberania no país do mensalão e da lava jato… Soberaníssimo bananão desgovernado pelo descondenado que exerce praticamente seu 5º mandato, renuncia a qualquer resquício de racionalidade e imagina que a centralidade do dólar no sistema global é fruto de uma conspiração imperialista.
A neta de Lula, coitada, foi ainda mais longe. Mostrou que as novas gerações, convictas e assertivas, aprendem e reproduzem com ares ainda mais sapientíssimos o conhecimento que lhes foi transmitido.
Para a neta de Lula, o Brasil está de joelhos para os EUA há 500 anos. Sim, quinhentos. Difícil entender? Só porque os Estados Unidos existem há pouco mais de dois séculos? Foi uma “gafe”. Afinal, quem tem Lula na alma ou no nome jamais é burro.
Embora critique diretamente os EUA e fale com todas as letras de “500 anos de submissão”, a moça explicou que, na verdade, estava se referindo ao imperialismo de forma geral. Entenderam? Ela falava de um país específico para o qual nos ajoelhamos há 500 anos, mas as pessoas deveriam subentender o conceito amplo. É que o brasileiro é ignorante, não sabe nada de história. Foi só erro de interpretação... do público.
Ninguém vai zombar da neta do Lula na universidade. Ninguém vai dizer que a esquerda é burra. Mesmo quem não é bolsonarista e tende à direita já se conformou com a ideia de que a direita é muito mais burrinha. Esse é o efeito que a universidade tem sobre o debate público. A gente fica plenamente convencido que em algum lado tem vida inteligente... Bem-aventurados aqueles que optam pelo sabor agridoce do ceticismo temperado com isenticismo!
Em evento da XP, que contou com a participação de Ronaldo Caiado, Tarcísio e Ratinho Junior, ao serem questionados sobre o acordo em relação às tarifas de Trump, o governador do Paraná respondeu:
Falta alguém ir lá, sentar com os americanos, como fez o Canadá, como fez a Índia, como fez a China, como fez o México, e parar de falar em desdolarização do comércio.
O Trump não pegou o Brasil para discutir esse assunto por causa do Bolsonaro. E, convenhamos, Bolsonaro não é mais importante que a relação entre Brasil e Estados Unidos. Pode até ter um afeto ali entre os dois, mas o problema real foi esse tipo de conversa: desdolarizar o comércio.
Nem a China, com seus 25 trilhões de PIB, ousou entrar nessa discussão. A Rússia, o maior inimigo dos Estados Unidos, também nunca tocou nesse assunto. A Índia, que cresce 7.6% ao ano, sequer mencionou isso.
Aí vai um brasileiro querer levantar essa pauta... quer dizer, é uma demonstração clara de falta de inteligência.
Como falstaffianista sem muita inteligência que sou, não tenho como concordar mais com Ratinho Júnior.
Confesso que chamar um governador de Ratinho me causa um profundo desgosto. Ainda assim, já me imagino lidando com o trauma reconfortante de trocar um Lula por um Ratinho... Quem sabe, depois de tanto tempo espremidos por invertebrados, ainda reste a algum vertebrado a estrutura necessária para se erguer.
Por outro lado, é difícil não pensar na burrice, ou melhor, na falta de inteligência desses três governadores em não se afastarem de uma vez por todas da figura de Bolsonaro.
Tem dias que penso que nosso maior problema não é político, é epistemológico.
Sempre genial
Brilhante! Esses 3 deveriam se desgrudar logo desse Bolsonaro