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Divagações sobre a nossa moeda e uma distante guerra civil

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dez 14, 2024
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Por Kovács

Brasil 1 Cruzeiro 1957

Vi poucos escritores perderem tempo com moedas. Me vêm à memória dois: Machado de Assis, que no final do século XIX sugeriu o nome cruzeiro para a nossa divisa, se adiantando mais de cinquenta anos, e Drummond, com uma crônica dos anos cinquenta, que criticava a estética das então recém-lançadas moedas de alumínio, a que chamava alquiminas, por ser, à época, ministro das Finanças José Maria Alkmin, primo em algum grau do nosso atual vice-presidente. As alquiminas substituíram a primeira série do cruzeiro, de bronze de alumínio (uma denominação errada para a liga, mas que mantenho por tradição), que vinha desde o final de 1942, porque o valor do metal já era maior que o valor facial das moedas, de 10 centavos a 2 cruzeiros, que terminavam derretidas para a reutilização do material. Essas moedas de alumínio são as mais sem sal da numária nacional. Deane, estudioso britânico da numismática, classificou o metal como “indigno” à numária, em artigo que aventa a possibilidade do uso de alumínio na cunhagem das moedas de 1, 2 e 5 centavos do cruzeiro novo, antes de seu lançamento em meados de 1968. A opinião do especialista deve ter sido influenciada pela lembrança das emissões do pós-guerra na Europa arruinada e empobrecida. Itália, França, Espanha, Áustria e Grécia emitiram trocados leves e opacos. O bloco socialista foi pródigo no uso do alumínio para fins monetários; União Soviética e Bulgária, não, mas Polônia, Tchecoslováquia, Alemanha Oriental, Iugoslávia, Albânia e Romênia tiveram, em algum momento, moedas de alumínio, quando não famílias inteiras. Essas moedas, com alguma exceção, se limitam à simbologia socialista: valor e brasão de armas. As alemãs-orientais eram bem cunhadas, com alumínio bom e desenho condizente. Antes da Segunda Guerra, a Alemanha de Weimar emitiu algumas moedas de alumínio; não sei se cabe aos alemães a primazia do uso monetário do metal, mas foram umas das primeiras peças a surgir. Durante a guerra, com a necessidade dos metais para fins bélicos, os nazistas fizeram trocados de zinco, tanto no Reich como em vários países ocupados ou sob a sua influência, como França, Bélgica e Países Baixos.

Imagine os efeitos psicológicos dessas moedas de alumínio. A inflação comendo solta, e as moedas transformadas em flocos que faziam um barulhinho seco quando caíam, não o ping vibrante das moedas de bronze. Com leveza irritante e cor desmaiada, elas viram nascer Brasília da cartola de Juscelino Kubitschek. Elas viram Jânio Quadros ser eleito e renunciar. Elas foram, em algum grau, um mau presságio.

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