Eu peço que leiam. Isso não é sobre um problema na minha rua. Isso é um Raio-X de como a alma do brasileiro é tacanha. E por isso é fácil comprá-la a preço de banana.
Muitos problemas que você tem hoje é por conta disso.
O caso relatado abaixo talvez seja apenas uma parábola sobre as coisas que faz você se sentir impotente como cidadão. Dizem que o micro revela o macro. Talvez isso não seja apenas sobre a minha rua, pode ser sobre o seu mundo.
Brasileiro não é aquele cara que xinga político porque ele é corrupto. Brasileiro é aquele cara que xinga político porque o político está fazendo esquemas de corrupção e não o chamou para participar.
Essa treta toda aqui na minha rua chegou onde chegou e eu precisei me expor esse tanto porque a associação de moradores que deveria nos representar perante o empreendimento Cidade Matarazzo foi subserviente e passiva, seja porque ela é composta por síndicos alienados e desinteressados na própria dignidade, seja porque ela é composta por síndicos que se vendem por ingressinhos para festinhas, entrada para exposições de vasos ou porque acham que estão fazendo contatinhos para os seus negócios particulares.
Desde que os europeus chegaram no Brasil e começaram a comprar índios com espelhinhos, a alma do brasileiro aprendeu a vender a sua dignidade por mixaria.
É o caso aqui.
Alexandre Allard, enquanto fica com essa conversa patética de ecologia, responsabilidade social e anti-capitalismo, chegou aqui cortando árvore, poluindo tudo, sobrecarregando energia da região com geradores nada sustentáveis e enchendo o rabo de dinheiro fazendo empreedimento luxuoso apenas para o desfrute da elite mais rica do Brasil e do mundo. O cara é um colonizador europeu com discursinho de maconheiro do grêmio estudantil da USP.
Até aí, normal. O tipo de hipocrisia que esse discurso carrega é tão clichê que basta ouvir um gringo falar essas merdas que você já sabe onde tudo vai parar.
O problema é que o baixinho narigudo, talvez por ser francês, tem também complexo de Napoleão. Não contente com as fronteiras do seu espaço, tenta invadir também a rua pública e as portas das nossas casas. E temo que um dia eu entre em casa e o encontre fuçando na minha geladeira.
Uma associação de moradores foi formada e ela deveria mediar a boa convivência, impor os limites e fazer a lei valer. Mas em todos esses anos a tal associação nunca fez isso por nós. Foi completamente submissa e passiva, inclusive expulsando dela vizinhas que questionavam de maneira mais pertinente os desdobramentos de toda essa obra e patifaria.
Quando eu percebi que a associação de moradores rifou a minha paz em troca de migalhas e que os vizinhos bem intencionados estavam numa luta inglória tentando diálogo e sendo ignorados, eu entendi também que as vias legais demorariam muito para sanarem o problema. Afinal, um processo leva anos na justiça e eu preciso que o som seja desligado urgente, pois eu preciso dormir é agora e não quando um processo legal for encerrado daqui uma década.
Para terem ideia do complexo de Napoleão de Allard e de todo o seu autoritarismo, quando os vizinhos colocaram uma placa dentro do seu próprio prédio exigindo respeito, a própria associação que deveria defende-los, usou o silêncio a favor do empreendimento que através de notificações e ameaças judiciais pressionaram a retirada da placa.
Eu entendi que isso aqui é um faroeste, uma terra de ninguém, e se eu quisesse dormir a noite e entrar na minha própria casa eu deveria agir por mim mesmo. Todo aquele sistema de diálogo criado era apenas uma forma de controlar a vizinhança e abafar as vozes descontentes.
Então eu fiz o que eu não queria fazer e comecei a expor a minha privacidade e publicar o que eles estavam fazendo.
Foi só aí que o CEO do empreendimento, Jaques, me chamou para conversar. Eu entendi então que ele não liga para o bem-estar dos vizinhos. Liga somente para a sua própria imagem e para a imagem do empreendimento.
Ele se sentou na mesa com umas plantas da obra, como se eu tivesse algum interesse nesse empreendimento que traz lucros pra eles e prejuízo pra mim. Mas certamente ele pensou que eu me sentiria lisonjeado por tomar um cafezinho com ele, afinal, ele foi muito generoso ao resolver atender um simples vizinho. Aqui a leitura é clara, se ele é confiante nesse tipo de postura é porque já deu certo outras vezes. Tem gente que se vende por lisonja ou migalhas. Está aí a passiva associação da rua que não me deixa mentir.
Quando me falaram sobre convites para eventos e exposições eu deixei claro que eu troco tudo que eles teriam pra me oferecer por apenas dormir a noite.
Eles disseram que iam resolver.
No outro dia me testaram. E fizeram tudo de novo.
O restante da história vocês já sabem.
Tentaram me intimidar com aquele vídeo em que eu chuto os cones, mas eu creio que no fim ficou pior pra eles.
O status disso tudo eu digo.
O vídeo de 22 minutos contextualizando o caso, que postei durante o Oscar e no carnaval, soma até agora mais de 6 milhões de views com 99% dos comentários contra o empreendimento.
A Rede Record, concorrente do canal que eu trabalho, foi generosa e solidária, compareceu espontaneamente aqui, fez matéria comigo e com os vizinhos e reprisou isso 4 vezes na grade dela alcançando enorme audiência.
O Marcão do Povo e o SBT, também espontaneamente, me chamaram para entrevista e mais uma vez tudo foi exposto, com ainda mais detalhes. Essa matéria já está com mais de 1 milhão de views, fora a audiência grande na TV aberta.
E agora pouco, enquanto eu escrevia esse artigo, sem eu esperar por isso, o Fuzil do Pânico começou a gritar na minha janela. Eu desci para atendê-lo e o caso teve a audiência ampliada ainda mais.
Os perfis do Rosewood e Cidade Matarazzo, embora vivam de fazer barulho de dia e de noite, não aguentaram um pequeno barulho em suas redes e trancaram todos os comentários de seus perfis.
É a primeira vez, desde que tudo começou, que tivemos noites seguidas tranquilas sem barulho de festa de playboy na Soho House, que tivemos a CET claramente organizando a obra na Rua e que nenhum morador saiu de carro sem saber se quando voltar teria ou não dificuldade para entrar na própria casa. Até o momento pararam de usar a rua pública como se fosse o deck privado deles.
Pode ser que isso dure apenas algumas semanas até a poeira baixar ou pode ser que finalmente seremos respeitados.
Seja como for, esse embate o poderoso complexo perdeu.
Como eu digo na matéria acima, talvez isso dure apenas algumas semanas. Eles acham que quando a poeira baixar nós vamos voltar para a passividade. É a visão que todo mundo tem de brasileiro. Se vendem por qualquer merda e desistem fácil. E não é pra menos que pensam isso. As coisas estão caras no mercado e todo mundo segue pulando carnaval.
Eu escrevo esse artigo pra você, que me lê, e não para eles.
Não seja passivo. Não se conforme. Tem muita gente corrupta e corruptora contando com o seu desânimo.
Talvez você diga “Mas eu não tenho o seu tamanho” ou “Eu posso ser esmagado". Eu quero que você saiba que eu não tenho tamanho nenhum. Se a sua luta for justa, ela pode ser grande por você. A razão te dá cobertura. Você nunca vai conseguir mudar o mundo, mas se você lutar pela sua própria dignidade, já terá feito daqui um lugar melhor.
Se você insistir que é fácil eu falar porque eu tenho mais dinheiro que você e trabalho na TV eu posso te garantir que eu não tinha dinheiro nenhum e não trabalhava na TV antes e cheguei até aqui fazendo isso, mesmo antes de ter o que você acha que eu tenho.
Eu não chutei aquele cone porque eu trabalho na TV ou porque eu tenho dinheiro. Eu chutei aquele cone porque eu queria entrar na minha casa, e eles não poderiam me impedir disso. Eu fiz cosias assim quando não tinha nada e morava em Santo André e continuo fazendo até hoje. E talvez eu morra fazendo.
Não se venda. Fique firme. Lute pelo o que é certo. Olhe ao redor. Muito perto existem algumas pessoas que estão, assim como você, ansiosas para as coisas melhorarem. Se junte a elas.
Você pode viver livre ou se vender por espelhinhos.
O problema de quem se vende por espelhinho é que depois não consegue nem aproveitar o pagamento, afinal, sempre que olhar para o seu prêmio vai se enxergar da mesma maneira que o cara que te presenteou te enxerga.
Muito bom. Para esse francês, o Brasil é mais uma colônia como as que eles espoliaram na África.
Ao ler o ponto sobre nosso protesto poder parecer "pequeno" lembrei do Silvio Santos, que disse uma vez que "quando o ser humano está com a razão, Deus é seu advogado". Boa!