Por André De Leones
Resenhei “Os bastidores”, de Martin Amis, pro caderno Pensar do Estado de Minas. Leia AQUI.
::: Quando eu era moleque e queria me tornar cineasta, a minha rotina era ver filmes e ler sobre filmes. Não era fácil encontrar bons livros sobre cinema no interior de Goiás (ainda que Silvânia tenha uma biblioteca pública muito boa, como sempre faço questão de ressaltar). Assim, eu dava um jeito de ir a Goiânia de vez em quando. Via algum filme no Cine Ouro ou no Ritz e depois circulava pelo Centro, rua 4 acima e abaixo, entrando e saindo dos sebos.
::: Um livro que comprei e li naquela época foi “Esculpir o tempo”, de Andrei Tarkovski (trad.: Jefferson Luiz Camargo, ed. Martins Fontes). Mesmo aos 16 anos, eu discordava de muita coisa que o cineasta russo afirma ali. Não conseguia formular de modo consequente essas discordâncias, mas li o troço de cabo a rabo, pensando: “Sério mesmo?”. Exemplo (p. 133-4): “A busca da perfeição leva um artista a fazer descobertas espirituais, e a empregar o máximo de esforço espiritual. A aspiração ao absoluto é a força que impele o desenvolvimento da humanidade. Para mim, a ideia do realismo na arte está ligada a essa força. A arte é realista quando se empenha em expressar um ideal ético. O realismo é aspiração à verdade, e a verdade sempre é bela. Neste ponto, o estético e o ético coincidem”. Que amontoado inacreditável de estrume. Mas, beleza, Andrei. Sabe quando o estético e o ético coincidiram na história do cinema? Nos documentários que Leni Riefenstahl realizou na Alemanha dos anos 1930.