#TáSobrandoTempo
A verdade é que entre Vicky e Érika Hilton, a diferença é só um patrimonialismo travestido (sem trocadilhos) de progressismo
Mesmo que não quisesse, você ficaria sabendo da polêmica envolvendo uma menina de 5 anos e uma bolsinha no valor de 14 mil reais.
Brasil, ano 2025. A inflação continua subindo, o feijão tá caro, a gasolina idem... e o que mais indignou internet no fim de semana foi uma criança de 5 anos com uma bolsa cara. Porque, claro, prioridades.
A protagonista da vez é Vicky, filha do empresário Roberto Justus e da influenciadora Ana Paula Siebert. A polêmica começou quando o casal postou uma foto da herdeira ostentando o que parecia ser um acessório de luxo. E pronto: o Twitter X virou um caldeirão fervente de fúria, comunismo estético e cálculo cambial.
Honestamente, eu estou bem sem tempo na minha vida para seguir Justus e sua família nas redes sociais. E mais sem tempo ainda para analisar uma foto e pensar: “Quanto será que custa essa bolsinha que essa criança privilegiada está segurando?”
Não só isso. Ir verificar em lojas virtuais qual o real valor da bolsinha em questão e, após isso, retornar ao post feito pela família e destilar um ódio descabido em uma garota de 5 anos, que na real, não faz ideia do quanto custou a porcaria da bolsa.
Eu não sou o tipo de mulher que bate o olho em um item que alguém está usando ou carregando e logo reconhece a marca e o valor, a ponto de saber qual a classe social que essa pessoa pertence e o quão privilegiada ela é. Costumo julgar as pessoas pelo caráter mesmo, mas eu sou de outro tempo.
Mas já que esse assunto conseguiu me atormentar, ao conferir o valor da bolsa no site da Fendi, descobri que o valor é de 1.200 EUROS (algo em torno de R$ 8.100). Continua caro? Pra mim sim, mas os detetives sociais quase dobraram o valor da bolsa nas notícias a troco de quê? Seria para justificar a sugestão de matar uma criança? Uma bolsa de 14 mil valeria mais ódio do que uma de 8 mil, é isso?
Mas aí, quando você acha que nada pode piorar, é nesse ponto que a coisa beira o surreal: gente adulta, com CPF ativo, título de eleitor e profissional da educação escalando ódio em uma criança de CINCO ANOS que, muito provavelmente, acha que "Fendi" é nome de personagem da Galinha Pintadinha. Tudo isso porque ela ousou — mas que ousadia! — segurar uma bolsa cara no feed dos pais.
Afinal, no Brasil, se alguém for rico e não for político, é suspeito por definição e deve sofrer linchamento – se possível, guilhotina –, pois certo mesmo é quem acha que sair desejando a morte de uma criança na internet vai resolver a desigualdade no Brasil.
Porém, enquanto isso, do outro lado da incoerência, temos a deputada Érika Hilton, baluarte da luta contra o capitalismo opressor (pelo menos nos seus discursos) — vestindo uma pulseira Cartier de R$ 182 mil e uma bolsinha humilde de R$ 27 mil, muito mais cara que a da pequena Vicky. Tudo isso para protestar contra os horrores do Congresso. De grife, claro.
A legenda da deputada? Algo sobre resistência e retrocessos, numa vibe meio “foto sensual com versículo bíblico” sabe!? Porque nada comunica melhor sua revolta contra a desigualdade do que um look digno de tapete vermelho. A diferença é que o glamour de Hilton vem com frete grátis pago por mim e por você, contribuinte. Já o da Vicky, pelo menos, saiu do bolso do papai rico mesmo.
Mas aqui não se trata de defender ricos ou pobres, esquerda ou direita — até porque, no fim das contas, todo mundo parece ter esquecido o propósito da crítica social e resolveu fazer cosplay de justiceiro digital. Militância virou hobby de quem tem tempo livre e raiva acumulada. Mas, graças a Deus, nada disso foi piada contada em palcos, então, podemos manter tudo no âmbito da crítica social metafórica e não em discurso de ódio nu e cru.
Nem vou mencionar Lula e seus looks e muito menos Janja, pois como eu disse, tô bem sem tempo, mas vocês já sabem o que eu quero dizer.
Se serve de consolo: o problema nunca foi a bolsa da Vicky. O problema é o país em que R$ 14 mil (R$ 8 mil na realidade) causam revolta quando estão na mão de uma menina de 5 anos, mas passam batido (10 vezes mais caro) no pulso de uma deputada ou na gravata de um presidente que vive falando em igualdade.
Mas a verdade é que, entre Vicky e Érika Hilton, a diferença é um patrimonialismo travestido (sem trocadilhos) de progressismo. Porque, pelo menos, quem pagou pela bolsa da pequena Vicky foi o pai dela, não você contribuinte.
No fim das contas, é tudo uma grande ironia de luxo e likes. E, como diria minha avó, gente feliz não enche o saco. Logo, seguimos entupidos.
Nossa, aprendi um bocado. Confesso que não tinha conhecimento de uma srta. Hilton, nem da quase-bebê com bolsinha-com-poder-de-gerar-revolta. Que revolta ridícula. É sério que estão escrevendo e brigando por BOLSAS? Who cares? Yasmin, em bem menos do que 1000 palavras você pintou uma imagem fidedigna do Brasil.
gente feliz não enche,disse tudo.