Confesso que nunca gostei de trabalhar. Sempre vi o trabalho como um mal necessário; uma expiação pelo pecado original cometido pelos pais da humanidade.
Mas não me tome o gentil leitor do NEIM por preguiçoso. A despeito de nunca gostar, trabalhei o suficiente para que Maria Teresa, minha saudosa esposa, e eu tivéssemos uma vida confortável e, principalmente, tempo um para o outro.
Mesmo em jovem, sempre soube qualificar adequadamente os meios e os fins e aprendi com Sêneca (em seu Sobre a brevidade da Vida) que o tempo é o recurso mais escasso e o único verdadeiramente irrecuperável que existe.
O trabalho, como o remédio, só é útil na dose certa e, assim como pareceria absurdo invejar ou admirar quem toma muito remédio, pareceu-me sempre absurdo ver no excesso de trabalho algo virtuoso.
Isso é obvio e sempre foi ensinado pelos filósofos; exceção, se não me engano, feita à tão brilhante quanto maçante Hannah Arendt com seu conceito de vita activa (o doutor Martim Vasques da Cunha pode confirmar ou me corrigir).
Não há verdadeira obra filosófica sem que haja clareza, profundidade e alguma instrução, ainda que indireta, sobre como viver uma vida feliz
Reconheço, entretanto, que tenho uma visão muito estreita e limitada da filosofia. Entendo-a unicamente como a ciência da boa vida; da vida feliz.
Se o leitor pensa que estou equiparando a filosofia aos livros de autoajuda, consinto, não obstante, com um alerta: todo livro de filosofia é livro de autoajuda, mas os livros de autoajuda costumam ser arremedos de filosofia.
Josef Pieper, por exemplo, ensina que filosofar é superar o mundo do trabalho. Filosofar, portanto, pressupõe um certo ócio, um certo vagabundear incompatíveis com o trabalho.
Trabalhar Cansa. Isso é um fato, mas é também uma livraria hospedada no enigmático Substack.
É uma livraria fantástica, cuja curadoria é de responsabilidade de alguém brilhante (não sei o nome do cavalheiro ou da dama); alguém que faz indicações espetaculares e resenhas profundas.
Recentemente, a
indicou um livro intitulado Aquiles ou Ulisses?, de um autor chamado Pierre Judet de La Combe.O livro e o autor eram-me desconhecidos e, dada a belíssima resenha, fui impelido a adquirir a obra.
Mas como um velho para quem a internet é, ainda, uma novidade, não me soube adaptar a esse modo inovador de adquirir livros pela
.Temendo os perigos que a internet proporciona a pessoas anosas, apelei à Amazon e o senhor Jeff Bezos, graças à resenha brilhante da
, ficou ainda mais rico.Por isso, aproveito este espaço que o NEIM irresponsavelmente me concede para sugerir que os responsáveis pela
inventem um método também inovador para quem, como eu, prefira ver seu dinheiro nas mãos de intelectuais brasileiros, e não nas de bilionários embusteiros – seja-me perdoado o pleonasmo.Enquanto os admiráveis livreiros refletem sobre a minha solicitação, peço aos leitores que também assinem o site da
.Peço-o egoisticamente: se o curador morrer de fome, perderei as excelentes indicações literárias.
O assinante pago do Não É Imprensa tem vantagens se for comprar com a Livraria [trabalhar cansa]. Mande uma mensagem para o WhatsApp (11) 97860-6565 e veja as condições de facilitação na hora do pagamento (vamos repetir: isto é válido somente para os assinantes pagos do nosso site). Visite também o Substack e o Instagram deles.
Grande Bernardo, seus escritos se tornaram um refrigério em meio ao peso enorme que carregamos, nós pobres e sofridos brasileiros que aguentamos nossos desgovernos, e ainda labutamos nos dias úteis. Há aqui e acolá, quem precise formar seu pézinho de meia (quem manda, como é o meu caso, ter netos além mares?).
Saúdo-o com Eclesiastes 1:3 "Que proveito tem o homem de todo o seu trabalho, com que se afadiga debaixo do sol?". E em seus 12 capítulos, o mais sábio dos seres viventes, desanca a vaidade humana, neste que é o mais amargo dos livros do cânone bíblico (assim diz meu amigo e pastor, Ed René Kivitz).
Passei minhas mãos para uma visão relâmpago na referida obra, mencionada por você, quando visitava ontem uma livraria física (cada vez menores, diga-se de passagem), em um dos Shoppings de São Paulo. Prioridades me fizeram escolher Dan Ariely. Mas por sua indicação, minha próxima encomenda literária será feita na Trabalhar Cansa. Assim ficamos todos irmanados nesta grande família, também chamada de tribo do NEIM.
Obrigado pelo “doutor”, caro Bernardo! 😉