#[trabalharcansa]: A névoa das palavras
Devemos buscar ares mais permanentes enquanto tudo entra em colapso
Bobi (2021, trad. Pedro Fonseca, Âyiné, 2024) é um perfil em fragmentos que Roberto Calasso fez de Roberto Bazlen, seu amigo e uma das figuras centrais na formação e no desenvolvimento da lendária editora italiana Adelphi: intelectual sem obra (que não é póstuma), bourgeois outsider, aristocrata do espírito, místico, “inadequado a qualquer função, exceto a de entender e de ser” (p. 28); mestre no cultivo do jardim secreto da cultura. Na avaliação de Calasso, o ambiente cultural da Itália dos anos 50 era embotado, apequenado e estreito, e Bobi conheceu a fundo as ideias e a estética correntes desse mundo e logo as abandonou, como “doenças infantis” (p. 16), para cultivar “certezas não autorizadas” (p. 25), nada menos que o essencial (p. 10); suas palavras deixavam “um rastro ardente” (p. 18), que lhe amealharam, entre os que realmente o conheciam, admiradores e devotos, como Eugenio Montale e Elsa Morante.