#[trabalharcansa]: A Outra História do Brasil
Otto Lara Resende não viveu a era da indignação coletiva que mobiliza militantes virtuais.
No início da década de 1990, o Brasil era um país um tanto diferente do qual conhecemos hoje em dia. Esqueça o discurso triunfalista de uma das principais economias do mundo; de ilha de estabilidade enquanto as nações outrora mais ricas sofrem com crises políticas e de liderança, sem grandes expectativas de melhora. Por outro lado, o Brasil dos primeiros anos da década de 1990, que acabara de empossar Fernando Collor de Mello, nunca deixava de surpreender pelo inusitado, tendo como ponto de vista uma janela no Rio de Janeiro; do mesmo modo que a História recente desse País, bem como seus personagens, ainda se destacavam no plano das memórias.
Esse diagnóstico não está elaborado em nenhum manual didático, desses que são distribuídos pelo governo. Em verdade, essa percepção do Brasil do início dos anos 1990 tem a ver com as impressões de um observador privilegiado do cotidiano da vida política no Brasil. Otto Lara Resende assinou, durante alguns meses, uma das colunas mais visitadas da imprensa brasileira. Coincidentemente, isso se deu na última fase de sua vida – e, portanto, infelizmente, ele não foi capaz de ver outras reviravoltas que estariam por acontecer por aqui. De todo modo, a seleta de crônicas Bom dia para nascer, com seleção e posfácio de Humberto Werneck, é uma bela forma de aproximação desse país do qual já nem lembramos mais e, tão importante quanto, de um dos textos mais bem elaborados da crônica brasileira.