#[trabalharcansa]: Agonia Sem Fim (1)
Sobre um dos livros mais perturbadores de todos os tempos: "Viagem ao Fim da Noite", de Louis-Ferdinand Céline.
O texto abaixo é a continuação da parceria entre o Não É Imprensa e a Livraria [trabalhar cansa]. Assim como o nosso site, este novo empreendimento de Dionisius Amêndola e Alexandre Sartório tenta pôr a sua marca na “microcultura” que surge pouco a pouco no Brasil. Se aqui adoramos a imprensa livre, mas somos contra os jornais, a [trabalhar cansa] é a favor da literatura e da arte, mas se opõe a um negócio que transformou os livros em mera mercadoria. Em suma, trata-se de um trabalho de amor. E é por isso que apoiamos tal iniciativa. Boa leitura!
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por Alexandre Sartório
A linguagem do ressentiment
Viagem ao Fim da Noite é um dos romances fundamentais da literatura moderna, não só da literatura francesa – que sofreu em 1932 a agressão da linguagem corrida, aos saltos, gritos e cusparadas, da linguagem anticlássica de Céline, a que estava desacostumado o país no auge do encanto pelas longas melodias de Proust –, mas da universal. Nele coexistem duas características basilares: uma linguagem sem peias e agressiva, e uma visão pessimista da existência humana, características que se alimentam do ressentimento, rio que corre por baixo de toda a obra, que é carregada de “grosseria, crueza, violência, deformação”, como resume sua tradutora brasileira Rosa Freire d’Aguiar.