Michel Houllebecq é dos poucos escritores, intelectuais, que hoje ousam ir contra a concertação pseudo-moralista daquela classe outrora tão arrojada e inconformista, a dos clérigos das letras. Por conta disso ele é visto como um imenso incômodo, e não são poucos os que se ressentem do trabalho, da existência mesma, deste escritor francês que com sua obra desconcerta o mundo ao ousar tirar o véu civilizatório e revelar nossas angústias e neuroses, nossas agruras contemporâneas, e nossa incapacidade de lidar com o incognoscível, com a presença constante e aterrorizante do fim que a todos há de chegar.
Se em livros anteriores ele mostra como, para escapar do horror fundamental, nós nos submetemos voluntariamente a promessas políticas, mergulhamos em um mundo hedonista e de desejos insaciáveis, buscamos transcender nossa humanidade falha e finita, em Aniquilar ele tece uma história de tocante humanidade e prenhe de misericórdia para com seus falhos e frágeis personagens.