Certo verão, quando eu tinha por volta dos 17 anos, meu pai me presenteou com um novo cordeiro. Haviam muitos em nossa fazenda, era nossa especialidade - mas esse meu pai trouxera de uma viagem. O animal ainda era jovem, chegou até mim em um final de tarde muito quente, típico do ápice do verão do nosso afastado interior. Todos estavam sofrendo as agruras do calor, humanos e animais, o pasto seco esfarelava nas mãos – todos os cordeiros sofriam, mas não aquele.
O que devo dizer na verdade é que nossa relação nunca foi uma relação óbvia entre criador e animal. Crescemos juntos - eu ainda tão jovem quando ele chegou - um animal sem pelos no rosto - ele, um animal de pelo ainda baixo. Naquela época, nos primeiros meses em que ele estava em nossas terras eu sempre perguntava ao meu pai de onde ele viera, como tinha sido sua captura - ele sempre respondia a mesma coisa, desviando o olhar:
- Ele veio até mim.
Voltava-se ao cachimbo e não dizia mais nada.