O jeito é voar (A história do senhor Sommer, de Patrick Süskind)
Por Alexandre Sartório
Camus diz em “A inteligência e o cadafalso”, seu ensaio clássico sobre A Princesa de Clèves, romance de Madame de La Fayette, que para os grandes romancistas franceses “não interessava a forma pela forma, mas somente a relação precisa que eles queriam introduzir entre seu tom e seu pensamento. A meio caminho entre monotonia e a loquacidade, eles tinham que encontrar uma linguagem para sua obstinação”; para eles o fundamental era fazer o leitor sentir sua obstinação; eles só queriam cumprir sua missão: levar o condenado ao cadafalso.
Pois bem. O narrador da novela juvenil A história do senhor Sommer (1991), de Patrick Süskind, autor do romance O perfume, que fez um sucesso enorme quando lançado, em 1985, parece seguir uma direção absolutamente diferente; parece querer ser um narrador antifrancês. Ironicamente, Süskind conta com a ajuda do mais francês dos ilustradores, Sempé – que aliás, é perfeito ao dar forma ao senhor Sommer e ao narrador, que conta como foi sua infância na Alemanha do pós-guerra.