#[trabalharcansa]: Os Não-Lugares de Annie Ernaux
Em "Olhe as luzes, meu amor", a Prêmio Nobel de Literatura escreve sobre onde a vida hipermoderna se realiza.
A obra de Annie Ernaux, escritora francesa agraciada com o Nobel de Literatura em 2022, construiu uma trajetória literária onde o principal tema será a sua própria vida. Suas relações com os pais, com a irmã morta, com um ou dois amantes, com o filho abortado – tais relações são matéria para a autora explorar impressões e ideias sobre si, sobre sua vida familiar, sobre as transformações pessoais, mas também sociais que moldaram a sociedade francesa atual. Ao longo de mais de quatro décadas de publicação, sua obra se desenvolveu de forma orgânica, permitindo a apreciação do leitor de acordo com o tempo entre um livro e outro, portanto é compreensível que alguns aspectos ficassem amenizados na leitura, particularmente a escrita autocentrada, que trata acima de tudo de si mesma, infelizmente a publicação no Brasil das obras da autora se deram de forma um tanto quanto gananciosa, foram nove títulos publicados em um espaço de aproximadamente três anos. Haja boa vontade do leitor, mesmo do mais apaixonado, por ler tantas impressões de uma única vida tem momentos literários realmente brilhantes - Os anos, O lugar, Paixão Simples – mas que por vezes cai em uma egotrip um tanto quanto maçante. Mas eis que a publicação de Olhe as luzes, meu amor, é um respiro para o leitor de Ernaux, o motivo é simples: eis uma obra em que a autora não está a escrever sobre si, mas sobre aqueles que vivem e compartilham uma vida em não lugares.