Por José Luís Bonfim
O ritmo é o segredo da recordação. Saber de cor, trazer de novo ao coração, vale hoje mais do que nunca. Navegamos todos os dias uma maré de informação que nos inunda, assoberba e esmaga: sobreviver é saber esquecer, o que no fundo é o mesmo do que recordar o essencial.
Conversando outro dia com o poeta João Filho nos perguntávamos: qual o poema mais memorável de Bruno Tolentino? Para a crítica e para posteridade, que mantém um silêncio ensurdecedor ao redor da obra do poeta, isso não é um tema. Outros poetas há que tem um espaço garantido no nosso imaginário: todo brasileiro sabe ou deveria lembrar de Bilac ao ouvir
Ora (direis) ouvir estrelas!..
ou então quando amargamente alguém comenta
A mão que afaga é a mesma que apedreja
ver-se diante do impávido paraibano Augusto dos Anjos. Mas a pergunta de João era mais sutil, queria o poeta conversar sobre qual poema de Bruno era mais acabado, mais rematado, mais feliz no casamento da forma com o conteúdo, e vice-versa. Gastamos alguns bons minutos em torno dessa questão mas não chegamos a uma conclusão definitiva.
Na parte que me toca desse latifúndio os versos de Bruno mais íntimos, que lembro e recito de cor, são os pedaços do «E lhe cantei então esse acalanto», parte do clássico «A balada do cárcere».