#[trabalharcansa]: Tasmânia e No contágio
Como se reconstrói a esperança na era dos fenômenos extremos?
Como se reconstrói a esperança na era dos fenômenos extremos?
Sobre Tasmânia e No contágio, de Paolo Giordano
Por
Em 2020 a epidemia da SARS-Cov2 tornou-se uma realidade global, e seu impacto foi aumentado pela incompreensão, que leva ao medo e a dúvidas. Diante de tal problema, o que fazer? É a partir desta questão que o escritor e físico italiano Paolo Giordano irá escrever o breve ensaio publicado ainda naquele ano: No contágio.
Dia 29 de fevereiro de 2020, marca o início das reflexões do escritor, um “não dia” de um ano bissexto, que pode funcionar como analogia ao período em que todos vivemos “vidas suspensas”: naquele momento registrava-se oitenta e cinco mil pessoas contaminadas, a maior parte na China e Ásia; a situação na Itália, país de Giordano, logo chocaria o mundo. Mas, naquele momento, já sabíamos que cedo ou tarde a peste varreria todas as regiões do globo e como numa reação em cadeia o número de contaminados e mortos aumentaria exponencialmente.
É a matemática do contágio que Giordano passa a calcular, não apenas para projetar o desenvolvimento e alcance da pandemia e do número de vítimas, mas principalmente para poder entender e controlar a própria ansiedade diante daquilo que é estranho e inquietante. A peste progride, os números de casos aumentam assustadoramente, sentimos que há algo de desestabilizador no modo como o vírus age. Na verdade, a peste age de forma natural, pois “a própria Natureza é, por sua natureza, não linear.” Ficamos aterrorizados diante deste movimento que os cientistas e matemáticos sabem ser natural e as manchetes dos jornais, os sites e formadores de opinião anunciam em tons preocupantes, dramáticos, a “explosão” dos casos, como algo imprevisível. “É essa distorção em relação ao que é normal que gera o medo”, esclarece Giordano.