#[trabalharcansa]: O centenário de Flannery O'Connor
25 de março de 2025 marca os 100 anos de nascimento da escritora americana que retratrou o drama do homem moderno diante do mistério.
O centenário de Flannery O’Connor.
O destino guia os que querem ser guiados, e arrasta os que não querem. (Sêneca)
Para A.K.
Por Dionisius Amendola
No dia 8 de dezembro de 1937, em uma floresta nos arredores de Leningrado, agora São Petersburgo, um grupo de prisioneiros foi executado. Era o auge dos expurgos e do terror stalinista. Entre as vítimas, havia um prisioneiro que fora condenado a dez anos de trabalhos forçados em um gulag, Svobódni, na Sibéria, acusado de realizar “atos contrarrevolucionários”. Pável Floriênski, nascido em 1882, era uma das mentes mais industriosas já nascidas na Rússia. Matemático, filósofo, inventor, foi teólogo e padre da Igreja Ortodoxa. Seus interesses buscavam conciliar religião e ciências duras, explorando questões relacionadas ao campo da arte e da filosofia. Assim como outros “inimigos do estado”, as obras de Floriênski permaneceram “esquecidas” durante décadas, seus restos mortais jamais foram recuperados e identificados, pois no local onde foi assassinado, é hoje ocupado por uma imensa usina.
Considerado um de seus mais importantes e influentes textos, A perspectiva inversa, só seria publicada na Rússia 35 anos após sua morte, em 1967. Neste ensaio, Floriênski parte dos estudos da arte religiosa medieval e bizantina, especialmente a análise dos ícones russos dos séculos XIV e XV, para questionar a representação objetiva da realidade, do observador como ponto de vista estático e abstrato, demonstrando os artistas medievos usam técnicas tais como o policentrismo para criar aquilo que ele chama de perspectiva inversa, uma que possibilita “o ingresso na realidade intangível das coisas, baseada na estrutura invisível de sua realidade metafísica”.
**
Flannery O’Connor nasceu em 25 de março de 1925, na cidade de Savannah, Georgia, uma das cidades mais icônicas da cultura sulista americana. Aos 15 anos de idade, ela perde o pai, vítima da doença de lúpus. Cursa a Georgia College and State University e torna-se editora da revista literária da universidade, desenha cartuns para o jornal do campus e escreve ensaios, críticas e poemas. O’Connor começa a levar a escrita a sério, inicia um curso de escrita criativa na State University of Iowa, além de pequenas estórias, é quando inicia a escrita daquele que seria seu primeiro romance, Wise Blood.