#UmaHistóriaDaClasseMédia
O início, declínio e queda de uma parte da sociedade que ainda insiste se revoltar contra os desmandos do governo
SUPERADOS OS MALES decorrentes da Grande Depressão, a indústria do pós-guerra precisava vender suas sucessivas invenções agora transformadas em mercadoria. Ora, para vender mercadorias, seria antes preciso haver um mercado: gente de carne, osso e renda, não apenas para comprar, mas desejar comprar, aqueles produtos lançados semana após semana e exibidos nas vitrines e reclames país afora.
Corriam os anos 1950 nos Estados Unidos: país que definia o capitalismo do pós-guerra para o resto do mundo sob o mesmo regime econômico. A população americana já estava minimamente habituada a consumir televisores e rádios, geladeiras e carros. Mas, naquele período, houve um florescimento sem paralelo da ciência e seu filhote tecnologia, e surgiam muitas invenções úteis para o lar, de modo a tornar a casa uma espécie de central de conforto e bem-estar urbano.
Assim, fez-se necessário incentivar todo um corte populacional apto a consumir aqueles produtos fabris: automóvel, fogão, geladeira, sofás, armários, vitrolas, aspiradores de pó. Isso porque, desde Thomas Edison e sua lâmpada elétrica, a chamada curva de experiência da indústria, isto é, o aprimoramento crescente das invenções adquirido no ato mesmo de produzir, fez com que a capacidade produtiva explodisse, e os estoques aumentassem exponencialmente.
Com a automação das máquinas fabris e processos produtivos cada vez mais eficientes, a indústria descobre um negócio chamado “economia de escala”, ou seja, uma relação inversamente proporcional que diz o seguinte: quanto mais produção de um determinado bem, menor o custo para se produzir uma unidade desse mesmo bem.
Trocando em miúdos: quanto mais a fábrica consegue fabricar, mais o custo do item fabricado diminui; por outro lado, quanto menos a fábrica produz, mais o custo unitário aumenta. Trata-se de um princípio clássico da administração. Isso acontece porque os custos envolvidos na cadeia não se alteram na mesma proporção, de modo que o impacto no preço final varia conforme aumenta ou diminui a produtividade.
Exemplo simples: digamos que uma boleira pague $100 de luz + $100 de água + $100 de matéria-prima para fazer bolos de pote. Se ela produz 30 bolos de pote por mês, o custo unitário fica em $10 por unidade ($300 de custo ÷ 30 bolos produzidos). Se ela fizer 15 bolos de pote e o custo com energia e água caem para $80 e o custo da matéria-prima cai para $60, então o novo custo fica 80 + 80 + 60 = 220. Ela economiza? Vejamos: $220 de custo ÷ 15 bolos produzidos = $14,66 de custo unitário. Antes custava $10. Arredondando, o custo unitário aumenta em 47%. Ou seja, menor produção implica em maior custo unitário e vice-versa.
Por isso vemos no noticiário que as montadoras de automóveis preferem deixar os empregados em casa a ligar as máquinas quando a demanda decresce: porque é preferível interromper a pouca produção a perder dinheiro no custo, basicamente. Com a demanda reaquecida, a produção aumenta e os custos diminuem.
Mas deixemos de chatice.
O grande modelo
A economia de escala industrial foi impulsionada pela disseminação da energia elétrica nas cidades do início do século 20. Surge o chamado fordismo (de Henry Ford e sua linha de montagem), inspirando cada vez mais a fabricação de outros bens de consumo dali em diante, de modo rápido e relativamente barato. Só tinha um problema: seria preciso escoar a produção crescente para fazer, vender e lucrar mais, de modo contínuo. Então, fazia-se necessária toda uma classe de pessoas que absorvesse aquela produção, e que, antes disso, tivesse dinheiro fluente para comprar aqueles produtos e trocá-los ao longo do tempo. Em suma, seria preciso um verdadeiro sistema.