Edgar Allan Poe é um autor americano (de Boston) que trabalha com as convenções narrativas do Velho Mundo. O passado feudal pouco tem em comum com a realidade do Novo Mundo. Assim, apesar de evocar cidades europeias e castelos em muitas de suas histórias, Poe trouxe a cidade moderna para o Gótico: ruas imundas, povoadas por pessoas miseráveis e doentes; becos soturnos, escurecidos por estarem às sombras dos arranha-céus; a poluição das fábricas, escurecendo os céus e os edifícios com fuligem preta; o crime e a violência urbana, que andam de mãos dadas com a anomia e o anonimato do cidadão das grandes metrópoles. Diante desse novo cenário, por vezes o passado é recuperado como nostalgia de uma época que não fora desvirtuada pelos avanços tecnológicos e comerciais.
O Gótico urbano gradualmente se transformava na narrativa de mistério policial: a heroína inocente era trancafiada em um asilo psiquiátrico, ao invés de um castelo; seu salvador, ao invés de um cavaleiro medieval, passou a ser o detetive amador, munido do poder da Lei ao invés da Providência divina e os horrores e crimes, ao invés de restritos a ruínas aristocráticas, passaram a se situar em casas de campo, em meio a uma nobreza decadente com sua porção de esqueletos no armário e gerações amaldiçoadas por transgressões cometidas pelas gerações anteriores. O trabalho de Poe com o gótico, assim como de seus conterrâneos Nathaniel Hawthorne e Charles Brockden Brown influenciaram, por sua vez, autores europeus, particularmente britânicos, como Charles Dickens, Henry James e, mais significativamente (para nós), Bram Stoker e Robert Louis Stevenson.