Por Fabio San Juan
Mozart me deixa alegre. Chopin, emocionado, e nem sei com o que, talvez com a própria beleza. A “Rhapsody in Blue” de Gershwin me deixa feliz. A “Bachiana Brasileira” n.o 4 resolve a minha tristeza banal com uma tristeza muito melhor elaborada, é pura catarse. Bach tem o poder de elevar os meus pés do chão, cabeça, coração e estômago, tudo. De pequeno, triste, sujo e pobre, ele me transporta e me faz ganhar novamente a fé. Se Deus é a Beleza, então é em direção Dela que voo, quando ouço Bach.
Não consigo, porém, explicar Debussy. Sons e silêncio; pausas como sombras, notas como luz. Óbvio, mais que dito? Sim, claro, como o luar de Claude Debussy.
Não quero usar o termo impressionismo e não o usarei. Se o próprio compositor não gostava dele, irei respeitar sua vontade, mesmo que isso não acrescente um único til na beleza da sua obra inteira.
Falarei da minha afinidade eletiva para com a peça para piano “La fille aux cheveaux de lin” (“A menina com cabelos de linho”), um de seus “Prelúdios”. Como dizer “sublime” com outras palavras? Direi do jeito que posso, que é comparar com uma obra visual, linguagem artística que conheço melhor que a música: “La fille...” está na música como está “Mulher com guarda-sol (O passeio)”, de Monet, para a pintura.
Ambos os artistas apanharam as sementes no lugar que somente os poetas sabem onde fica, cultivaram suas flores e as espalharam. Colhê-las, colhemo-as nós. Num tempo de suspensão. Um “tempo da delicadeza, onde não diremos nada, nada aconteceu”.
Mas não era minha intenção comparar Debussy e Monet, quando liguei o computador para escrever. Quis comparar o francês ao brasileiro Antonio Carlos, que era de Almeida Brasileiro, porém muito propriamente, o nosso Tom Jobim. Que, custa crer, faz 30 anos faleceu, que se deu em 08 de dezembro de 1994.