Foi com a leitura de Não-coisas: reviravoltas do mundo da vida, que meu interesse pela obra do filósofo Byung-Chul Han foi despertado; até então via seus livros com certa reticência, visto a popularidade do sul-coreano radicado na Alemanha entre os estudantes e professores das chamadas “humanidades”, preconceito que não é tão desarrazoado assim, convenhamos.
Mas meus interesses e paixão pela existência e preservação das mídias físicas me fez ler o referido livro; o que descobri é um autor que entende profundamente as questões que afligem nossa época e que obsessivamente retorna e articula os temas, problemas e argumentos, criando uma obra que parece construída como uma peça musical bachiana, com pontos e contrapontos, na qual frases e conceitos são lançados, refletidos e retomados em uma exploração refinada da arte do ensaio filosófico.
Tratando de temas como a beleza, a crise do Eros, a crise da narração, hiperinformação e hipercultura, morte, poder, topos da violência, capitalismo tardio, a compulsão pela transparência, dentre outros que, como dito, articulam-se entre si, Han mantém um diálogo rico com autores como Heidegger, Hegel, Walter Benjamim, René Girard e Simone Weil, para citar apenas alguns dos mais conhecidos. E será na leitura de Louvor à Terra, publicado no Brasil pela editora Vozes, que encontramos um outro elemento formativo da visão de mundo do autor, ainda que aparentemente circunstancial. Tal elemento é o catolicismo.
Louvor à Terra é uma reflexão ensaística sobre o cuidar de um jardim, jardim este que Byung-Chul Han mantém em uma casa na Alemanha; de início podemos pensar que é o retomar de um novo romantismo, com sua obsessão pelas origens e pelo pertencimento, mas na verdade Han trata desta relação através de um olhar que se faz teológico.