Vivemos tempos fascinantes em sua dissimulação: a democracia está morta, mas seu cadáver é mantido de pé, embalsamado em rituais de linguagem, como um ídolo oco cuja função é justificar o regime que a substituiu. Um regime que, com tragicômica desenvoltura, diz proteger a liberdade censurando, garantir a paz promovendo guerras, defender o pluralismo banindo dissidências.
A democracia liberal, que pretendia equilibrar representação, liberdade e freios institucionais, foi sequestrada por uma tecnocracia ideológica. A retórica dos direitos humanos tornou-se ferramenta de coerção supranacional. A “ordem baseada em regras” — que ninguém votou e que ninguém pode contestar — virou dogma. E qualquer crítica a essa fé secular é punida como extremismo.