– por Igor Barbosa
Assim dizia um sucesso do Grupo Revelação: “Ô Queirós, traz essa mulher pra nós”!
Se o leitor mais afeito ao surrealismo sugerir que era ao Eça de Queirós que Xande de Pilares e seus parceiros invocavam, não estará só, pois é essa a tese que defendo nos parágrafos seguintes.
Queirós, com sua pena rica de recursos expressivos, trouxe para nós algumas mulheres tão memoráveis que praticamente somos levados a pensar em todas no mundo como tendo de ser uma Maria Monforte ou uma Luísa – adúlteras, debochadas, penitentes –; ou de uma titia Patrocínio, aquela beata chatíssima cujo coração de pedra foi camuflado pelos sinais exteriores do cristianismo oficializado(por isso prostituído). Ou mesmo a outra Luísa, a rapariga loura singular que deixa um impulso cleptomaníaco corromper uma felicidade nascente.
A julgar por sua obra, o Queirós trazia as mulheres, mas não as guardava para si, porque não gostava da fruta. Um misógino? Um homossexual enrustido? Se o intuito for entender, o aspecto biográfico é desalentador.
Aos vinte e trinta anos, feroz inimigo das instituições burguesas, entre as quais ele listava o casamento, Eça não hesita em atribuir às mulheres valor equivalente ao de animais de carga ou instrumentos de trabalho. Transita num mundo masculino e só aos homens devota seus melhores sentimentos e pensamentos. Parece não acreditar nem mesmo que seja possível a um homem entreter-se na companhia de uma mulher e viver feliz dedicando-lhe alguma exclusividade de qualquer ordem, e isto principalmente a um homem de letras e de cultura, como ele e os demais a quem vota amizade e com divide a missão de exercer, nas letras portuguesas, um papel semelhante à de uma bola de demolição.