– por Ted Gioia
(tradução de Roberto Neves)
Venho estudando a obra do filósofo alemão Martin Heidegger há décadas. Cheguei a participar de uma conferência acadêmica sobre Heidegger uma vez, passando vários dias em colóquios soporíferos com existencialistas notórios — o que não é exatamente o passatempo típico de um crítico de música. Mas há enorme sabedoria nos seus textos, embora ela tenha seu preço.
Isto é porque Heidegger é uma figura difícil e frustrante. Sua biografia é tumultuada, contendo uma dose de feiura acima da média. Temos sorte, pois poucas das suas piores falhas pessoais aparecem nos trabalhos filosóficos publicados durante a sua vida. Mas mesmo estes livros podem ser vertiginosamente difíceis de decifrar.
Tive um professor uma vez que zombeteiramente resumia a filosofia de Heidegger em uma frase de três palavras (tomada de uma tradução rudimentar de um de seus livros): “O nada nadeia.”
Sei o que você está pensando. Não existe o verbo nadear. Mas se você tem esse tipo de escrúpulos, é melhor não abrir “Ser e Tempo”, ou qualquer outro dos livros de Heidegger.
Eles são escritos em um estilo de prosa diferente de qualquer outro que você já tenha visto, e à primeira vista o uso que Heidegger faz da linguagem parece muito frouxo, quase poético — e sempre beirando o impenetrável. Mas ele realmente transmite conceitos muito precisos e frequentemente inspiradores, só que compete ao leitor compreender a terminologia arcana e o caminho complexo do argumento.