UM
Avançam quatro fidalgos apressados pela campina do Castelo Grande, nas proximidades da cidade de Alcácer Quibir, desviam-se com muito cuidado dos companheiros caídos, em andrajos, que formam sobre o chão uma tapeçaria de peles e tripas dispersas e que tingem a ramagem baixa com um pigmento vermelho muito viscoso. Seguem um senhor alto e austero de adagas às faces, uma para cada ponta do bigode, e nada dizem a ele enquanto atravessam o caminho de livores, pois o Alcaide de Castelo Grande não entende uma palavra do português e, dos quatro atrás, não há um só que fale em arabescos, e se houvesse estaria ocupado em apenas praguejar e rezar e praguejar em seu vernáculo. A cada passo deixam quatro fidalgos pesarosos para trás e ao relento os olhos muito abertos e as pernas em X e as mãos vazias de dedos estendidos a implorar de compatriotas desgraçados pela lâmina e pela pólvora. A cada passo, uma traição.