#unamuno: Educação sem adjetivos para uma cultura sem adjetivos
Condicionar a realidade a um embate político e cultural é escravizar o homem, é mutilar sua capacidade de pensar.
– por Hugo Langone
Que grandes nomes da arte e da cultura tenham se ocupado de manifestações culturais que o senso comum tem por “menores” pode ser de enorme alento. Penso, em especial, no carinho que figuras como Nelson Rodrigues e Albert Camus destinaram ao futebol, o que me permite tocar este tema que parece díspar, fruto de uma experiência pessoal mais ou menos marcante — e, como todas as experiências pessoais, de grande relevância para quem a viveu e aparentemente tola a quem de fora a contempla.
A que me refiro? A um pequeno torcedor do Fluminense na década de 1990, quando equipes de expressão e tradição não costumavam deixar o pelotão de elite do esporte brasileiro. E ocorreu, para a desgraça desse pequeno torcedor que fui, que fosse o seu time a inaugurar — ao menos é assim que a mim se afigura — isso que é hoje bastante comum. Como de se esperar, no dia seguinte à tragédia, como se se tratasse de uma tragédia nova, ter de ir à escola mostrou-se um suplício, qual o de Joana sendo consumida pelas chamas, e que ali traduziu-se, no momento oportuno, na figura de um colega de classe cujo nome e sobrenome até hoje conheço, e que se aproximou do triste torcedor com um papel preenchido por um único dizer, em letras pretas, cursivas: “Segunda divisão. Segunda divisão. Segunda divisão”.