#unamuno: Fingir a dor que deveras sente
Sobre o poema "Ao Divino Assassino", de Bruno Tolentino
– por Jessé de Almeida Primo
“Ao divino Assassino”, publicado em 1998 como frontispício à edição definitiva de Anulação e outros reparos,[1] e republicado em 2002 com modificações na seção “Lição de trevas”, no Mundo como ideia (ed. Globo, 2002), é algo como a parada de sucesso de Bruno Tolentino, como outrora o foi “Noturno”, do seu livro de estreia, que por coincidência é também uma lírica amorosa, a qual de alguma maneira não é um tipo de poesia que de modo significante lhe ocupa o espírito, a não ser que sirva para ilustrar a sua verdadeira obsessão, que é o mundo como ideia.
O termo “parada de sucesso” mesmo sendo atenuado pela locução comparativa, “algo como”, não é o mais adequado, uma vez que, atenuado ou não, implica uma recepção popular que é mais comum ao show business. Trata-se antes de uma identificação emocional, tanto de leitores e críticos, com o elemento amoroso de sua lírica. Se observarmos os leitores de Tolentino nas redes sociais, os poemas que os blogues e sítios virtuais de poesia geralmente publicam, veremos que A balada do cárcere[2] e As horas de Katharina são as obras mais lidas, mais apreciadas. Em tempo, nada há de desmerecedor nisso. Esses dois livros não são afinal “marginália” em relação ao restante de suas obras, a despeito do que disse o próprio autor sobre a Balada.[3] A organização interna de ambas é tão cerrada quanto o são O mundo como ideia e A imitação do amanhecer, e o que as torna porém mais bem recebidas é o fato de serem grandes poemas sobre o amor, amor esse que se expressa não apenas com engenho e arte e sim com uma intensidade emocional de tal ordem que dificilmente deixaria de comover, atingindo assim o mesmo efeito da lírica propriamente dita.