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#unamuno: Holanda X Brasil, a eterna disputa (1)

Futebol, pintura e arquitetura como maneiras diferentes de ver o mundo

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Unamuno Revista de Cultura
abr 30, 2024
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Para substituir a primeira temporada do Não É Entrevista (calma, leitor, a seção voltará em breve, completamente remodelada), hoje começa uma nova parceria no Não É Imprensa (NEIM): a da Revista Unamuno, uma célula de jovens talentos literários, editada por Pedro de Almendra. Toda terça e quinta, teremos ensaios, contos e poemas que comprovarão a existência de uma minoria talentosa que se importa de verdade com a cultura do nosso país e que, por isso, só tem o futuro a oferecer. Visite também o Twitter e o Instagram da publicação.

***

Por Pedro de Almendra

“Você joga futebol com a sua cabeça, as pernas não passam de instrumentos auxiliares.” – Johan Cruyff

“Diante dele, que não pensa, todos nós, que pensamos, somos uns lerdos, uns bovinos, uns hipopótamos.” – Nelson Rodrigues a respeito de Mané Garrincha

Em um estudo a respeito do futebol holandês, o pesquisador inglês David Winner1 compara o modo como Cruyff e Michels pensavam o campo de futebol com a maneira tipicamente holandesa de se aproveitar os espaços, manifesta também na pintura e na arquitetura. “Há uma maneira holandesa de ver o espaço e a paisagem”; e assim como foi em Amsterdã, onde enormes canais artificiais de água cortam as quadras em forma de grade, que a idéia de “cidade planejada” se encarnou em perfeição, foi também por meio da famosa seleção holandesa de 1974, sob a tutela de Rinus Michels, o “General”, que o mundo conheceu o “futebol total” e descobriu que o tamanho de um campo de futebol é uma variável plástica e manejável. Assim como a figura humana é um elemento de menor importância nos quadros de Bruegel e de Saerendam, o talento individual, essa variável imprecisa e traiçoeira na qual ainda confiamos cá deste outro lado do Atlântico, é irrelevante no sistema da laranja mecânica.

A lógica por trás da seleção de 1974 é simples: o time que passa mais tempo com a posse de bola, e não o que tem os melhores jogadores, controla o jogo. O talento do craque adversário é, afinal, irrelevante se ele não encontrar ocasião para exercê-lo – “sem a bola”, escreve Johan Cruyff, “não se pode vencer”. E qual o segredo para manter a posse de bola? Estender os espaços. Em vez de a perseguirem amontoando-se à sua volta, os jogadores aguardam pelo percurso da bola – que se move em passes curtos e precisos– nos seus respectivos setores. O campo inteiro, dessa forma, é ocupado por todos os jogadores, os quais, por não possuírem posições fixas, são intercambiáveis entre si. A bola pode estar nos pés de qualquer um, pois todos são igualmente valiosos (ou desimportantes). Não é dever do camisa 10 fazer a bola chegar aos pés do 9, e não é dever do 9 fazer o gol. Não há protagonista, não há herói; há funcionários de um mesmo mecanismo – um carrossel – encarregado de fazer com que a bola circule pelo campo – em tique-taque – até parar no gol. Os jogadores devem agir com calma e prudência, sem arroubos de inspiração e sem desproporcionalidade entre as funções e setores. Quando o time adversário está com a posse de bola, o mesmo raciocínio é aplicado, mas às avessas: o campo deve ser encurtado, para que os jogadores rivais se sintam pressionados e comecem a agir de maneira irracional (a famosa defesa organizada em linha de impedimento, inventada por Michels, por exemplo, serve para reduzir o campo), e a bola seja recuperada o mais rápido possível. Quem não tem espaço não tem tempo para pensar, e o futebol praticado na Holanda é, antes de tudo, uma arte racional – ou por outra: cartesiana.

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