– por Bernardo Lins Brandão
Falar em mística e poesia pode parecer, à primeira vista, uma contradição. É que a poesia é a arte da palavra e a mística, já em seu sentido etimológico – definido pelo verbo grego myo, que significa fechar os olhos, silenciar -, diz respeito a experiências sobre as quais deveríamos nos calar. De um lado, o deleite da palavra; do outro, experiências inefáveis. Como conciliar?
Esse também é um problema para a teologia: é que, se o Deus do nominalismo, de Ockham à filosofia analítica, é um ente perfeitíssimo, isto é, algo que existe com uma essência determinada, onisciente, onipresente e onipotente, para a tradição do teísmo clássico, por ser o criador de todas as coisas, Ele está para além de todas elas e, por isso, não pode ser compreendido como um ente nem nomeado como as coisas deste mundo.
Filósofos como Plotino o chamavam de Um, indicando que é a unidade para além de toda alteridade; outros, como Dionísio Areopagita, não hesitavam em caracterizá-lo como não-ser, indicando que é superior ao ente. S. Tomás, buscando uma linguagem mais precisa, o entendia como o ato de ser subsistente, isto é, o fundamento do ser em toda a sua plenitude.