– por Pedro Sette-Câmara
Osubsolo pode ter recebido esse nome na Rússia, mas a experiência é universal o suficiente para poder ser discernida nas diversas literaturas. Em Portugal, Álvaro de Campos é o heterônimo subsolesco de Fernando Pessoa, especialmente em “Tabacaria” e no “Poema em linha reta”. No Brasil, o poema mais subsolesco de que me lembro é “Elegia 1938”, de Carlos Drummond de Andrade, que se presta muito bem a ser lido à luz de Dostoiévski.
O poema é um discurso dirigido a um “homem do subsolo” que pode até não ser um bufão como Fiódor Karamázov (o “velho bandalho”, como disse Nelson Rodrigues) ou como o narrador de Memórias do subolo (1864), mas que nos apresenta talvez a expressão mais banal, mais presente na vida cotidiana, mais gente como a gente, do subsolo — aliás, com tudo que ela pode ter de mais sinistro e assustador, ao deixar clara sua continuidade com atos nada banais.