Um ano depois da morte de minha esposa, Maria Teresa, deixei a velha casa em que moramos por quase cinquenta anos. Mudei-me para um confortável prédio de apartamentos então recém-construído.
O apartamento conta com uma varanda ampla o bastante para comportar uma churrasqueira, a qual, não obstante os protestos de meu sobrinho Luís Felipe, prontamente substitui por uma belíssima área verde que me serve de paisagem enquanto leio meus jornais pelas manhãs e meus romances no resto do tempo.
Meu apartamento é o nono de outros vinte e quatro, pelo que me habituei a utilizar o ascensor como outrora utilizava as escadas que dão para o segundo piso da minha velha casa.
Na penúltima quarta-feira do mês passado, enquanto eu falava ao telefone com minha irmã, ouvi um barulho altíssimo, como se um armário cheio de louça houvesse despencado. Imediatamente supus que dona Antonina da Silva, a senhora que contratei para cuidar de minhas roupas e de minha alimentação, estivesse morta sob uma das cristaleiras onde ficam guardados os serviços de jantar.